Carreiras

Barómetro RH - Mário Costa



01.01.2000



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Mário Costa
Presidente do Grupo Select/Vedior



O problema do desfasamento entre o conjunto dos candidatos que todos os anos se apresenta ao mercado e a possibilidade de emprego que o mercado tem para oferecer é grave, desestruturante e cada vez maior.


Ainda que esta seja uma realidade bem conhecida de todos, continua a não ser levada em conta pelos candidatos ao ensino superior, que optam muitas vezes por áreas em que a tão apregoada falta de emprego deveria bastar, numa perspectiva puramente lógica, para dissuadir o candidato mais alheado da realidade. Mas a verdade é que os jovens (a maioria dos candidatos), se não distraídos, são pelo menos, e por natureza, idealistas e olham o futuro como uma realidade longínqua. Deste prisma, a tendência é naturalmente escolher o que mais se gosta, o estilo de vida esteticamente mais aprazível, por impraticável que seja esse projecto, analisadas as coisas desde uma óptica mais racional.

Os agentes políticos ou educativos (incluindo obviamente os pais) estariam a ser ainda mais idealistas do que os jovens se pensassem que porventura o facto de publicitarem o problema da empregabilidade, nesta ou naquela área, os iria demover de optar pelo que mais lhes agradasse segundo a lógica que enunciámos.

Este fenómeno é consequência da democratização do ensino e apenas pode ser contrariado revendo este conceito gerador de injustiças e desequilíbrio social. Não é razoável, além de paradoxal, pretender um projecto de sociedade em que a maioria tem um curso superior: se o curso é superior é porque está acima de outras vias que, pela ordem natural das coisas, serão mais comuns e em maior número: ou seja, é diferenciado.

A vulgarização do acesso e conclusão das licenciaturas só significa um nivelamento por baixo no que respeita ao grau de exigência — que os cursos deixaram de ser superiores. E que dizer da banalização dos mestrados? É uma lógica medíocre, desprestigiante para o meio universitário, em que não são os espíritos que se elevam ao saber, mas os títulos que são praticamente ‘desbaratados' pelas massas.

Não é publicitando problemas de emprego ou reduzindo vagas que se inverte esta tendência. É importante aumentar a exigência no acesso ao ensino superior, apostar e zelar pela excelência dos cursos e criar alternativas razoáveis a esta via para todos aqueles que, por força deste elevar da fasquia, ficarão, diremos, saudavelmente excluídos da formação universitária. Só assim se pode, a pouco e pouco, ajustar a procura dos que buscam emprego à oferta do mercado. É que uma sociedade de muitos mestres é algo tão estranho como um bicho de sete cabeças.






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