A era dos empregos verdes
O ambiente constitui hoje uma área de permanente interesse e de
preocupação renovada. Por um lado, os ambientalistas defendem
a sua necessária preservação, enquanto se descobrem
no ambiente nichos potenciais de criação de emprego. A designação
"emprego verde" sintetiza esta ideia, referindo-se, de acordo
com o estudo "Ambiente e Emprego" de Julho de 1999, a toda a
actividade gerada directamente a partir do ambiente e toda a actividade
que se destina a proporcionar uma melhor qualidade de vida ao homem, na
sua relação com a natureza.
O estudo, levado a efeito pelo CIDEC - Centro Interdisciplinar de Estudos
Económicos, sob a coordenação de Álvaro
Martins, pretendeu lançar pistas para a relação
entre o ambiente e o emprego, uma relação que tende a
estreitar-se. O ambiente é uma área de actividade em crescente
dinamismo, pelo que merece revestir-se de um continuado acompanhamento
na perspectiva da formação e emprego. Caso contrário,
o estudo alerta, podem registar-se "rupturas ao nível dos
recursos humanos, com impactos sérios na produtividade dos investimentos
a efectuar".
Estimava-se que a taxa de crescimento das despesas ambientais era da
ordem dos 11% na União Europeia, na altura da realização
do estudo. No caso português, previa-se um crescimento para valores
superiores, "face às exigências ambientais e aos baixos
níveis de partida". Por isso, importa explorar os jazigos
de emprego existentes ao nível do ambiente e, deste modo, dinamizar
os seus quadros específicos.
Susana Fonseca, membro da Direcção Nacional da Quercus
- Associação Nacional de Conservação da
Natureza, reparte as áreas profissionais associadas ao ambiente
em dois núcleos. No primeiro, o das profissões ou áreas
tradicionais que assumem novas roupagens, identifica a advocacia ambiental,
a agricultura biológica e as vertentes macrobiótica, vegetarianismo
ou "slow food" (como contraponto à "fast food")
da cozinha e restauração. Fala ainda do comércio,
da acção das forças de segurança (com a
identificação do crime ambiental), do jornalismo (pela
crescente especialização na cobertura de matérias
ambientais) e do marketing ambiental.
Das novas áreas ambientais, do segundo grupo que designa, fazem
parte a arquitectura (movida por estudos de integração
paisagística, energia e resíduos) e a saúde ambiental
(a epidemiologia), os sistemas de informação e investigação
ligados a mecanismos de despoluição e controlo de emissões,
a engenharia civil ambiental, o desenvolvimento de energias renováveis,
a sociologia e psicologia do ambiente e as profissões relacionadas
com a triagem de resíduos e compostagem. Há ainda a referir
a ecoeficiência e o ecodesign, que contemplam a análise
profunda de todo o ciclo de vida dos objectos, por forma a rentabilizar
a sua utilização e apostar na sua reutilização
(ver caixa - exemplos de empregos verdes).
Formação e competências a desenvolver
O estudo "Ambiente e Emprego" nota que "o sector ambiental
está a emergir como actividade económica relevante",
detectando já "impactos ao nível do investimento,
da produção de bens e serviços e, consequentemente,
do emprego". Mas alerta para o que pode advir, por exemplo, de
um controlo mais apertado de emissões de poluentes para a atmosfera
- a regulamentação "poderá levar a alguma
deslocalização de actividades económicas para regiões
mais permissivas".
É um problema a ter em conta quando se trata de intensificar
"o reconhecimento da actividade ambiental a nível local",
tido como "importante factor de desenvolvimento, devido às
sinergias com o emprego" e "a geração de rendimentos
que lhe está associada", esclarece o estudo. Ainda a esta
escala, apontam-se o turismo e o aproveitamento de outros recursos locais
como actividades económicas relevantes, bem como o ecoturismo,
as actividades de recuperação da paisagem em comunhão
com a história e a cultura das populações, e a
manutenção e diversidade do património florestal.
Assiste-se assim à emergência de pequenos nichos de emprego
ao nível das pequenas localidades.
Para Susana Fonseca, nestas ou noutras áreas, os potenciais candidatos
aos empregos verdes devem estar investidos de um pensamento de fundo
relacional e estratégico e de grande motivação
para uma aprendizagem contínua. Os avanços tecnológicos
constantes, tendentes a agilizar a detecção, o controlo
e a monitorização, exigem uma formação sempre
renovável. Por outro lado, a contínua descoberta das novas
implicações ambientais das actividades humanas reclama
uma sensibilização crescente. Do perfil devem constar
ainda a criatividade e o rigor científico, devendo o candidato
nunca descurar um enorme sentido de responsabilidade social e ambiental
(ver caixa - perfil dos candidatos).
As competências a desenvolver passam por fazer cumprir a letra
da lei. Pede-se uma capacidade de permanente procura e actualização
de conhecimentos, motivadas pelo avanço em termos legislativos
e regulamentares, e pela necessidade de dar resposta célere aos
compromissos ambientais assumidos internacionalmente.
Fragilidades na inserção profissional
Pela voz de Susana Fonseca, a Quercus aponta o "reduzido investimento
realizado pelo Estado" e a "quase total ausência do
sector privado na promoção da investigação"
como os grandes entraves ao desenvolvimento destas áreas profissionais
no nosso país. Detecta uma significativa falta de interesse e
uma formação técnica incipiente por parte dos agentes
operadores no mercado.
Outro dos problemas assinalados prende-se com o facto de a própria
sociedade tender a agir muito pouco em matéria ambiental, visto
tratar-se, em grande parte dos casos, "de património comum
e não de um interesse particular". A falta de uma visão
estratégica pode também comprometer quer a rápida
tomada de consciência da transversalidade do ambiente a todas
as áreas de formação, quer a eclosão de
novas saídas profissionais.
Exemplos de empregos verdes
Estas são algumas das áreas profissionais associadas ao
ambiente:
- advocacia ambiental
- marketing ambiental
- arquitectura ambiental (gestão de espaços verdes)
- engenharia civil ambiental
- saúde ambiental (epidemiologia)
- agricultura biológica (ou mais sustentável em termos
económicos)
- cozinha/restauração (produtos macrobióticos,
vegetarianos e "slow food")
- comércio (produtos biológicos e macrobióticos,
roupas e produtos ecológicos, lojas de comércio justo)
- forças de segurança (formação de sub-agrupamentos,
como o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente,
da GNR)
- sistemas de informação e investigação
(auditorias e diagnósticos ambientais, avaliação
de impactos)
- ecoeficiência e ecodesign (promoção de produtos
mais duráveis e recuperáveis, menor uso de substâncias
perigosas e desaceleração do depauperamento dos recursos
ambientais)
- planeamento energético e uso de energias renováveis
- gestão de áreas protegidas, recursos hídricos
e zonas costeiras
- jardinagem e floricultura
- monitorização do ruído e isolamentos acústicos
- jornalismo (cobertura mais ampla e especialização na
área do ambiente)
- psicossociologia do ambiente (avaliação das atitudes
e condutas individuais e colectivas para a sensibilização
e novas formas de acção)
Perfil dos candidatos
O candidato deve cumprir os seguintes requisitos:
- raciocínio estratégico e relacional (capacidade lógica
de agir)
- abertura e motivação para uma formação
e aprendizagem contínuas, capazes de acompanhar os progressos
científicos e técnicos
- apetência para lidar com uma forte componente legislativa e
regulamentar
- criatividade, rigor técnico-científico e cálculo
abstracto
- sentido apurado de responsabilidade social e, acima de tudo, ambiental
- formação específica (técnico-profissional)
na área a desenvolver
Helder Gomes