Carreiras

-'O sucesso é efémero!'



01.01.2000



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Qual o seu percurso profissional até chegar ao lugar que ocupa?
O meu percurso profissional é de base militar, oficial da administração do exército. Em 1961 fui demitido do exército por razões políticas. Fui julgado e condenado tendo que ir para o estrangeiro até ao 25 de Abril. No estrangeiro trabalhei em gestão, sempre ligado à comunicação social e à publicidade. No Brasil trabalhei no grupo "Delta Larousse" e no grupo "LTB - Páginas Amarelas" que tinha um conjunto editorial de grande expressão que eu dirigia. Depois do 25 de Abril fui reintegrado no Exército. Durante o 9º governo constitucional, fui assessor militar do dr. Mário Soares. Quando acabou o mandato do dr. Mário Soares, tinha já 50 anos. Desliguei-me do serviço e passei à reserva, voltando a fazer aquilo que tinha feito no exílio, a gestão em editoras e na comunicação social. Também já dirigi imobiliárias, mas o meu interesse é na área da Comunicação Social.

Como é que passou da carreira militar para a gestão de empresas de media? Como é que surgiu o interesse pela gestão dos media?
Na verdade eu sou oficial da administração Militar, portanto o meu interesse pela área da gestão e acção administrativa é muito assumido e tenho tido algum investimento pessoal nessa reflexão, porque penso que a acção administrativa que se desenvolve em Portugal é de muitíssimo baixa qualidade. Acho que todos nós temos de ser militantes da melhoria qualitativa da acção administrativa a desenvolver no país. É através dessa acção que se desenvolve nas empresas que o país pode crescer e desenvolver-se. Também acho que todo o país devia ser mobilizado para o patamar administrativo, para gerir bem, para planear, para controlar e para viver com mais austeridade e eficiência.

Como é que chega a Presidente da Administração da Lusa?
Chego a Presidente da Administração da Lusa em 1996, indicado pela Notícias de Portugal (NP) que é uma cooperativa de utentes dos serviços da Lusa, ou seja, nessa altura, tanto o estado como a NP detinham 50% do capital e, pelos estatutos, cabia à NP indicar o presidente do conselho e o estado aceitava. Vim para aqui com a anuência do Estado. Depois, os estatutos foram alterados e fui reconduzido pelo Estado para um segundo mandato.

Como é que vê a evolução das tecnologias da comunicação e a globalização da informação? Até que ponto isso veio afectar os serviços da Lusa, uma vez que por um lado se torna mais fácil ter acesso à informação e, por outro, temos a questão do plágio e da reprodução ilegal da informação.
Está já afectar. A Lusa tem já um serviço, o serviço Lusanet, que disponibiliza a informação a todos os órgãos de comunicação social e sítios (sites) que queiram comprar.
Naturalmente que a situação de retracção mundial que se vive neste momento tem afectado bastante este negócio. Só para lhe dar um exemplo, já tivemos meses de vender mais de sete mil notícias a um portal norte-americano e, no mês passado, vendemos pouco mais de uma dezena. Para ter ideia da quebra de notícias.
É claro também que quando foi introduzido o pagamento na Internet, as regras do consumo alteraram-se.
Não vejo fantasmas na globalização, até porque no campo da informação é necessário assumir uma postura de divulgação para cada vez mais mercados e comunidades. É por isso que a Lusa iniciou este ano um serviço noticioso para a media brasileira, para os países africanos de expressão portuguesa, para Timor e Macau e está a pretender vender informação para os órgãos fronteiriços de comunicação social de Espanha. E tem também um bloco de notícias em Inglês.

É adepto dessas novas tecnologias?
Sem Internet não havia notícias on-line, nem havia os serviços que a Lusa tem hoje.

Considera que o mercado de trabalho da comunicação é um mercado competitivo?
Eu não conheço os outros mercados, acho que tinha que ser feita uma comparação em concreto. Comparar o mercado de trabalho de comunicação com os outros mercados de trabalho de um modo geral… não sei. De qualquer modo aqui na Lusa , os jornalistas são todos licenciados, pelo menos os mais novos. Penso que este será um mercado com um grau de cada vez maior exigência.

Como vê o jornalismo nos dias que correm?
N ão posso dizer que estamos no ápice da qualidade, da correcção, da ética ou da deontologia, infelizmente. Mais que uma vez, que ouvi discursos com uma certa tabloidização, com falta de qualidade, não só na televisão como em jornais, para justificar as audiências e a colocação de razões económicas para justificar a massificação, tabloidização da informação de conteúdos. Acho isso tudo banal, espero é que haja um efeito benéfico e que não comecem a copiar-se uns aos outros na baixa qualidade, mas que antes procurem diferenciar-se uns dos outros pela criatividade e pela qualidade.

Qual o maior desafio profissional que encontrou ao longo da sua carreira?
Fui o 9º presidente da RTP numa época bastante difícil, um ano após o 25 de Abril. Naturalmente que era uma casa completamente acidentada, desestruturada. Mas também já tive outros casos difíceis na área editorial e da publicidade onde conseguimos restruturar as empresas. O que é preciso para as empresas é criar um efeito de simpatia para o rigor, trabalho e eficiência, e isso é uma circunstância que se cria com a comunicação.

Qual foi o passo decisivo para o seu sucesso?
O sucesso é muito circunstancial, é uma ideia efémera, não se repete. Acho que é uma ideia para um gestor, falando honestamente, que pode resultar da capacidade de motivar os outros, mudar a realidade e criar mecanismos para dar resposta ao presente com vista ao futuro das funções estratégicas que são essenciais para a empresa e para as organizações. Acho que a gestão não tem meios, tem mecanismos.


Que conselhos daria aos que se querem aventurar na gestão de empresas de media?
Que reflictam na actividade e sobre a gestão. E não se considerem satisfeitos numa gestão com os objectivos de gestão, mas sim numa gestão de oportunidades. A gestão hoje tem de ser feita por objectivos e por oportunidades não apenas com uma gestão por objectivos como Peter Drucker enunciou em 1954.


Quando era criança, o que queria ser quando fosse grande?
Desde muito novo que eu gosto de ver o mar e de me aproximar do mar. Por isso gostava de ser pescador ou então marinheiro.

Algum grande sonho por realizar? Qual?
Ter um barco.



JD






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