Muitos portugueses respondem a um horário de trabalho fixo que só o é no papel. Na prática, trabalham diariamente “fora de horas”. Fazem-no ao telefone, de auricular, ainda enquanto conduzem para chegar ao trabalho. Fazem-no no percurso inverso, já depois da hora de saída. Fazem-no em casa, de computador em punho a dar resposta aquele email que já chegou fora de foras, e em muitas outras situações. A Regus, empresa especialista em soluções de trabalho flexíveis, inquiriu 22 mil profissionais em 100 países, onde se incluem Portugal, sobre a relação dos profissionais com o horário de trabalho e concluiu que “as alterações nos padrões de trabalho estão a aumentar a pressão sobre os profissionais”.
“Um número significativo de profissionais consideram que os seu empregos se intrometem no seu tempo livre”, confirma Jorge Valdeira, Country Manager da Regus Portugal. O estudo conduzido pela empresa a nível global e agora divulgado mostra que as pressões de trabalho são normalmente responsáveis pela interrupção de tarefas importantes distraindo os profissionais, por exemplo, enquanto estão a conduzir. A este propósito, a análise demonstra que “dois em cada cinco inquiridos estão preocupados com trabalho enquanto deviam estar concentrados na estrada, o que significa que precisam de encostar mais frequentemente o carro para resolver uma questão do que há cinco anos atrás”, altura em que foi conduzido um estudo semelhante.
No caso específico português, 74% dos inquiridos consideram que o horário laboral fixo não é adequado às tarefas que desempenham. De resto, uma percentagem elevada de profissionais (71%) admite trabalhar mais horas fora do escritório e cada vez com maior regularidade. O estudo da Regus identificou, em termos globais, mudanças no relacionamento dos profissionais com o horário de trabalho ao longo dos últimos cinco anos, sobretudo ao nível do aumento das comunicações – 64% trocam recorrentemente mensagens instantâneas de âmbito profissional -, alterações de última hora nos horários de reuniões (62%) e maior probabilidade de terem de trabalhar em viagens longas de carro (referida por 40% dos inquiridos com o prática recorrente). Práticas que confirmam “uma intrusão crescente no tempo pessoal dos profissionais”.
Para o responsável da Regus em Portugal, “a expectativa de que os profissionais estão sempre a verificar os seus e-mails está a prejudicar a etiqueta no trabalho”. Um aspeto visível nos 62% de colaboradores a nível mundial que relatam a ocorrência de mudanças de última hora nas reuniões com demasiada frequência. Jorge Valdeira reconhece que que “o ambiente de trabalho global está a mudar assim como a tecnologia, especialmente no mobile e nas mensagens instantâneas com benefícios enormes, uma vez que permitem aos profissionais serem mais flexíveis”. Porém, admite, “é importante que estar sempre conectado seja benéfico para a produtividade e não constitua uma distração para os trabalhadores quando estão a conduzir ou a viver a sua esfera pessoal”.
Para o especialista, num contexto destes, é fundamental que as empresas pensem estrategicamente nas opções que dão aos colaboradores para que possam atender às suas demandas com rapidez, mas também com segurança e eficácia, tanto mais que, como comprova o estudo, “a pressão no trabalho conduz a uma quebra de produtividade”.