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Licenciados na rota da reconversão



01.01.2000



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Licenciados na rota da reconversão

Longe vai o tempo em que o grau académico de licenciatura significava acesso imediato ao mercado de trabalho. O crescimento exponencial do número de licenciados, a falta de bom senso na abertura de vagas para os cursos superiores e, sobretudo, a ameaça de desemprego têm criado nos jovens recém-diplomados a consciência da necessidade de uma formação contínua. A busca de uma nova orientação profissional tem de ser um esforço mediado entre os gabinetes de apoio e os órgãos de soberania que trabalham nas áreas da formação e do ensino superior. O futuro destes recém-licenciados escreve-se com três Rs: Reciclar aptidões, Reutilizar conhecimentos e Reconverter saberes.


Sendo a formação nas áreas das ciências sociais e humanas a que menos escoamento profissional permite aos seus formandos, consideremos três exemplos de recém-licenciados em ciências da comunicação, geografia e planeamento regional e antropologia. Maria Amélia Luís, socióloga do trabalho e formadora profissional, aponta possíveis soluções para os finalistas nessas áreas. Habituada a trabalhar com os estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, a socióloga fala em nome da Unidade de Inserção na Vida Activa (UNIVA) daquele estabelecimento.

Assim, um licenciado em ciências da comunicação poderá efectuar uma acção de formação em "tecnologias da informação e comunicação". Desta forma, acrescenta ao seu currículo "um saber prático, traduzido numa saída profissional ligada à produção multimédia ou ainda no domínio do comércio electrónico e lojas virtuais", esclarece. Um licenciado em geografia e planeamento regional pode optar por desenvolver competências na área da protecção do ambiente. Poderá seguir um itinerário de qualificação designado por "controlo de exploração de sistemas de abastecimento de água e saneamento". Desta área formativa fazem parte módulos técnicos e comportamentais que proporcionam saídas profissionais mais alargadas. Já um licenciado em antropologia deverá optar, por exemplo, pelo ingresso numa formação em práticas integradas de recursos humanos. A socióloga refere que com esta opção o formando pode "ambicionar vir a ser inserido em departamentos de RH ou consultoras".

Perspectivas de progressão em novas tecnologias

Um cenário menos optimista é traçado pelo engenheiro Rui Melo, presidente da Direcção da Associação Nacional das Empresas das Tecnologias de Informação e Electrónica (ANETIE). Contactado pelo Expresso Emprego, assume que existe já um "mercado excedentário de quadros" em novas tecnologias. Esclarece que a sua associação não tem, neste momento, "qualquer pedido dos seus associados no sentido da formação específica" nesta área. É nas áreas de "gestão de projectos e de negócios" que detecta necessidades maiores. Contudo, aponta a importância de desenvolver "noções vectoriais num mercado dinâmico", capazes de suprir as "necessidades de requalificação da imensa capacidade humana instalada". Por "noções vectoriais" entenda-se o desenvolvimento de capacidades de resposta transversais às várias áreas de actuação.

Um estudo de Julho de 2001, intitulado "O Sector das TI [Tecnologias da Informação] em Portugal" e elaborado pela ANETIE, tirava algumas conclusões animadoras. Tendo em conta o nível de PIB "per capita" nacional, em Portugal "a dimensão do mercado de TI apresenta-se superior ao que seria de esperar". Esta conclusão é tanto mais válida quanto mais considerarmos que Portugal acusa indicadores de TI "per capita" inferiores aos da generalidade dos países. Como principais factores de competitividade eram apontados "as parceiras, a qualidade e o 'know-how' especializado". Seria então da exploração desta última potencialidade que as TI conheceriam um maior progresso e, simultaneamente, seriam dados aos licenciados de humanidades os instrumentos de reconversão certos.

Mas, nestas matérias, Maria Amélia Luís prefere falar de ampliação da formação por via de saberes complementares por não considerar "a reconversão profissional de uma maneira simplista". Diz que, à luz da definição do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), reconverter um indivíduo profissionalmente significa que ele "adquire ou completa uma qualificação dentro da sua área de actividade, obtendo uma nova qualificação, a que pode estar associada uma progressão escolar".

A acção governamental

O Ministério da Ciência e do Ensino Superior implementou recentemente um pacote de iniciativas estratégicas para o fomento da ciência e investigação no nosso país. Estas são as pistas lançadas por Fátima Alves, ao anunciar que "logo que os programas Futuro e Ciência 2010 forem aprovados, estes licenciados poderão candidatar-se a bolsas" e "fazer a reconversão para novas tecnologias". As reconversões "estarão a cargo do INA, das universidades e politécnicos". O Ministério espera que "essas candidaturas já possam ocorrer no próximo mês de Julho". A par dos novos programas, foi aprovado um regime de mecenato científico, que prevê incentivos fiscais e de bolsas de formação. Este é considerado "o maior investimento de sempre nesta área em Portugal", lê-se no sítio do Ministério em www.mces.gov.pt. Tendo como horizonte o ano de 2010, a aposta mais forte destes programas será, contudo, concentrada "já nos próximos três anos".

No ano passado, recorda Maria Amélia Luís, surgiu o programa FORDESQ (Programa de Acção para a Formação de Qualificados Desempregados), que "veio possibilitar-nos encaminhar os nossos licenciados em ciências sociais para duas áreas - tecnologias da informação e da comunicação e gestão empresarial". Num mesmo contexto, surgem os cursos no âmbito da formação para activos qualificados que, esclarece a socióloga, "preparam activos empregados ou desempregados", investidos de qualificações de nível superior, para "o desenvolvimento de competências transversais e técnicas". Estes programas são, assim, vistos como facilitadores da integração ou reintegração no mercado de trabalho, e permitem acelerar o desenvolvimento das competências em deficit no mundo empresarial.

A formadora profissional da UNIVA na faculdade onde trabalha é peremptória ao concluir que, por se tratar de um estudo recente, não pode garantir que os licenciados objecto destes "reforços formativos" estejam a potenciá-los ao máximo. Está, no entanto, em condições de assegurar que "do ponto de vista da satisfação pessoal, essa é grande". E fala da importância do formando, num momento de crise, "aproveitar o desemprego, não como um cataclismo, mas como uma oportunidade de reconstruir, reforçar ou maximizar".

Como encontrar a reconversão certa

No modelo apresentado pela socióloga Maria Amélia Luís, tem que haver uma "articulação de variáveis afectivas, comportamentais e motivacionais", com vista a um trabalho de "grande proximidade" com os recém-licenciados. Fala de uma espécie de negociação e compromisso "entre nós e o sujeito objecto de apoio", em que "somos também gestores de expectativas e desejos pessoais e, simultaneamente, mediadores entre oportunidades". Quando diz "nós", refere-se aos responsáveis dos Gabinetes de Saídas Profissionais, as UNIVAs e os Conselheiros de Orientação Profissional do IEFP. É um trabalho conjunto que reúne os esforços do orientador (que assume um papel de mediador) e o indivíduo em procura, na "avaliação das motivações e experiências" deste.

Onde procurar as acções e programas

Para além do apoio prestado no próprio estabelecimento de ensino em que cumpre o seu grau académico, o formando pode recorrer à informação disponibilizada nos seguintes sites:

- Associação Nacional das Empresas das Tecnologias de Informação e Electrónica (www.anetie.pt), que apresenta como objectivos específicos e linhas programáticas "fomentar o aparecimento de capital-semente em Portugal" no sector das tecnologias da informação e comunicação e "ajudar a aproximar as necessidades das empresas com o iceberg de conhecimento que reside nas instituições de Ensino Superior";

- Instituto do Emprego e Formação Profissional (www.iefp.pt);

- Ministério da Ciência e do Ensino Superior (www.mces.gov.pt);

- Portugal High-Tech (www.portugalhightech.com) - o Portal das Tecnologias da Informação e Electrónica Portguesa;

- Universia (www.universia.pt) - o Portal dos Universitários. Aconselha-se também uma visita ao canal de emprego do portal, que fica em www.emprego.universia.pt.

Helder Gomes






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