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A era dos empregos verdes



01.01.2000



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A era dos empregos verdes

O ambiente constitui hoje uma área de permanente interesse e de preocupação renovada. Por um lado, os ambientalistas defendem a sua necessária preservação, enquanto se descobrem no ambiente nichos potenciais de criação de emprego. A designação "emprego verde" sintetiza esta ideia, referindo-se, de acordo com o estudo "Ambiente e Emprego" de Julho de 1999, a toda a actividade gerada directamente a partir do ambiente e toda a actividade que se destina a proporcionar uma melhor qualidade de vida ao homem, na sua relação com a natureza.


O estudo, levado a efeito pelo CIDEC - Centro Interdisciplinar de Estudos Económicos, sob a coordenação de Álvaro Martins, pretendeu lançar pistas para a relação entre o ambiente e o emprego, uma relação que tende a estreitar-se. O ambiente é uma área de actividade em crescente dinamismo, pelo que merece revestir-se de um continuado acompanhamento na perspectiva da formação e emprego. Caso contrário, o estudo alerta, podem registar-se "rupturas ao nível dos recursos humanos, com impactos sérios na produtividade dos investimentos a efectuar".

Estimava-se que a taxa de crescimento das despesas ambientais era da ordem dos 11% na União Europeia, na altura da realização do estudo. No caso português, previa-se um crescimento para valores superiores, "face às exigências ambientais e aos baixos níveis de partida". Por isso, importa explorar os jazigos de emprego existentes ao nível do ambiente e, deste modo, dinamizar os seus quadros específicos.

Susana Fonseca, membro da Direcção Nacional da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza, reparte as áreas profissionais associadas ao ambiente em dois núcleos. No primeiro, o das profissões ou áreas tradicionais que assumem novas roupagens, identifica a advocacia ambiental, a agricultura biológica e as vertentes macrobiótica, vegetarianismo ou "slow food" (como contraponto à "fast food") da cozinha e restauração. Fala ainda do comércio, da acção das forças de segurança (com a identificação do crime ambiental), do jornalismo (pela crescente especialização na cobertura de matérias ambientais) e do marketing ambiental.

Das novas áreas ambientais, do segundo grupo que designa, fazem parte a arquitectura (movida por estudos de integração paisagística, energia e resíduos) e a saúde ambiental (a epidemiologia), os sistemas de informação e investigação ligados a mecanismos de despoluição e controlo de emissões, a engenharia civil ambiental, o desenvolvimento de energias renováveis, a sociologia e psicologia do ambiente e as profissões relacionadas com a triagem de resíduos e compostagem. Há ainda a referir a ecoeficiência e o ecodesign, que contemplam a análise profunda de todo o ciclo de vida dos objectos, por forma a rentabilizar a sua utilização e apostar na sua reutilização (ver caixa - exemplos de empregos verdes).

Formação e competências a desenvolver

O estudo "Ambiente e Emprego" nota que "o sector ambiental está a emergir como actividade económica relevante", detectando já "impactos ao nível do investimento, da produção de bens e serviços e, consequentemente, do emprego". Mas alerta para o que pode advir, por exemplo, de um controlo mais apertado de emissões de poluentes para a atmosfera - a regulamentação "poderá levar a alguma deslocalização de actividades económicas para regiões mais permissivas".

É um problema a ter em conta quando se trata de intensificar "o reconhecimento da actividade ambiental a nível local", tido como "importante factor de desenvolvimento, devido às sinergias com o emprego" e "a geração de rendimentos que lhe está associada", esclarece o estudo. Ainda a esta escala, apontam-se o turismo e o aproveitamento de outros recursos locais como actividades económicas relevantes, bem como o ecoturismo, as actividades de recuperação da paisagem em comunhão com a história e a cultura das populações, e a manutenção e diversidade do património florestal. Assiste-se assim à emergência de pequenos nichos de emprego ao nível das pequenas localidades.

Para Susana Fonseca, nestas ou noutras áreas, os potenciais candidatos aos empregos verdes devem estar investidos de um pensamento de fundo relacional e estratégico e de grande motivação para uma aprendizagem contínua. Os avanços tecnológicos constantes, tendentes a agilizar a detecção, o controlo e a monitorização, exigem uma formação sempre renovável. Por outro lado, a contínua descoberta das novas implicações ambientais das actividades humanas reclama uma sensibilização crescente. Do perfil devem constar ainda a criatividade e o rigor científico, devendo o candidato nunca descurar um enorme sentido de responsabilidade social e ambiental (ver caixa - perfil dos candidatos).

As competências a desenvolver passam por fazer cumprir a letra da lei. Pede-se uma capacidade de permanente procura e actualização de conhecimentos, motivadas pelo avanço em termos legislativos e regulamentares, e pela necessidade de dar resposta célere aos compromissos ambientais assumidos internacionalmente.

Fragilidades na inserção profissional

Pela voz de Susana Fonseca, a Quercus aponta o "reduzido investimento realizado pelo Estado" e a "quase total ausência do sector privado na promoção da investigação" como os grandes entraves ao desenvolvimento destas áreas profissionais no nosso país. Detecta uma significativa falta de interesse e uma formação técnica incipiente por parte dos agentes operadores no mercado.

Outro dos problemas assinalados prende-se com o facto de a própria sociedade tender a agir muito pouco em matéria ambiental, visto tratar-se, em grande parte dos casos, "de património comum e não de um interesse particular". A falta de uma visão estratégica pode também comprometer quer a rápida tomada de consciência da transversalidade do ambiente a todas as áreas de formação, quer a eclosão de novas saídas profissionais.

Exemplos de empregos verdes

Estas são algumas das áreas profissionais associadas ao ambiente:

- advocacia ambiental
- marketing ambiental
- arquitectura ambiental (gestão de espaços verdes)
- engenharia civil ambiental
- saúde ambiental (epidemiologia)
- agricultura biológica (ou mais sustentável em termos económicos)
- cozinha/restauração (produtos macrobióticos, vegetarianos e "slow food")
- comércio (produtos biológicos e macrobióticos, roupas e produtos ecológicos, lojas de comércio justo)
- forças de segurança (formação de sub-agrupamentos, como o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente, da GNR)
- sistemas de informação e investigação (auditorias e diagnósticos ambientais, avaliação de impactos)
- ecoeficiência e ecodesign (promoção de produtos mais duráveis e recuperáveis, menor uso de substâncias perigosas e desaceleração do depauperamento dos recursos ambientais)
- planeamento energético e uso de energias renováveis
- gestão de áreas protegidas, recursos hídricos e zonas costeiras
- jardinagem e floricultura
- monitorização do ruído e isolamentos acústicos
- jornalismo (cobertura mais ampla e especialização na área do ambiente)
- psicossociologia do ambiente (avaliação das atitudes e condutas individuais e colectivas para a sensibilização e novas formas de acção)

Perfil dos candidatos

O candidato deve cumprir os seguintes requisitos:

- raciocínio estratégico e relacional (capacidade lógica de agir)
- abertura e motivação para uma formação e aprendizagem contínuas, capazes de acompanhar os progressos científicos e técnicos
- apetência para lidar com uma forte componente legislativa e regulamentar
- criatividade, rigor técnico-científico e cálculo abstracto
- sentido apurado de responsabilidade social e, acima de tudo, ambiental
- formação específica (técnico-profissional) na área a desenvolver

Helder Gomes






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