Opinião

Trabalho: digno ou uma questão de Agenda?



22.07.2022



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Nessun Dorma!
Pedro Lacerda

Bastaram dois anos para acabar com estigmas históricos relativos ao trabalho. Um pouco por todo o mundo, tornámo-lo mais ágil, flexível, e, com isso, mais competitivo. No fundo, retirámos um poder ao empregador para o dar ao trabalhador — o poder da escolha.

Já com a certeza bem assente de que não existem empregos para a vida, vemo- nos agora a par com a discussão sobre a Agenda do Trabalho Digno, um documento forte na sua ideologia, mas fraco na sua prática. Forte por assumir que só é digno o trabalho sem termo. Fraco por desresponsabilizar as obrigações de fiscalização e controlo, impondo ao invés mais regras às empresas, além do cumprimento de novas quotas.

Num contexto em que se pede mais flexibilidade tanto a contratar como a despedir, a Agenda assume a contratação como um ponto sem retorno. Numa altura em que ganham força conceitos como descentralização, a Agenda centraliza a atividade empresarial em si mesma. Por outro lado, em contexto de proximidade crescente entre o salário mínimo e médio, ignoram-se as fracas condições que o nosso tecido empresarial consegue oferecer aos seus colaboradores. Resultado? Até podem existir oportunidades de trabalho, mas faltam talentos que as queiram aceitar.

Num país com quase 5 milhões de trabalhadores, a Agenda foca-se nos cerca de 120 mil temporários e considera-os como precários quando, na verdade, a esmagadora maioria aufere rendimentos anuais entre os €13 mil e os €16 mil. Números que contam para a receita fiscal e para a taxa de empregabilidade, mas que a Agenda os torna puramente ideológicos.

No fundo, a Agenda falha na responsabilidade de criar mecanismos proativos de fiscalização e regulamentação do mercado laboral, optando por fazer a gestão do mercado com medidas pesadas e restritivas. 

Diretor-executivo da Kelly Services para Portugal e vice-presidente para a região EMEA










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