Estando no epicentro da consultoria dos recursos humanos, é natural que surja amiúde a questão da pertinência de integrar na lei laboral portuguesa a “semana de quatro dias de trabalho”. O que não tem uma resposta taxativa, como revela a aprovação de inscrever no Orçamento do Estado de 2022 a promoção de um estudo para a construção de um programa-piloto que vise analisar e testar novos modelos de organização do trabalho.
Sejamos prudentes, porque o tema tem muitos layers que carecem de reflexão profunda face à dimensão e impacto que têm em termos sociais, económicos e até culturais. Há que considerar vantagens e desvantagens para as pessoas e empresas antes de se encontrar uma solução equilibrada para o contexto atual.
Do lado positivo, o raio-X deteta a produtividade, felicidade, engagement, retenção, motivação, menos absentismo, worklife balance e tempo, que é um valor inqualificável. Do lado negativo, revela-se a dificuldade de aplicar transversalmente uma semana de quatro dias de trabalho aos vários sectores de atividade, o que traz implicações como redução de salário, necessidade de maior número de recursos (que se agrava quando as empresas trabalham por turnos), o que significa mais impostos num contexto económico em que as empresas ainda se estão a restabelecer. Pese embora a retoma, há empréstimos contraídos num cenário inflacionista sem precedentes desde há décadas. E tudo isto a acontecer num contexto de escassez de talento e de elevada rotatividade nas empresas.
É prematuro aplicar a “semana de quatro dias de trabalho” de uma forma transversal num tecido empresarial esmagadoramente constituído por pequenas, médias e microempresas. Se for transversal é inflexível, o que vai contra tudo o que a pandemia nos ensinou: a flexibilidade no trabalho é o padrão de ouro a implementar, como fator-chave de equilíbrio para que haja produtividade num ambiente são, com pessoas felizes e motivadas.
Há que encontrar alternativas, e as empresas terão que ser criativas, oferecendo às suas pessoas, de forma ajustada às possibilidades de negócio, outras propostas que estejam próximas das expectativas de uma conciliação harmoniosa da vida pessoal com o trabalho.
Relatório do raio-X: o segredo é encontrar o equilíbrio entre as necessidades individuais de cada um adaptado às necessidades de cada negócio.
Diretora-geral da Adecco Portugal