Ruben Eiras
OS PORTUGUESES mais qualificados são os primeiros a beneficiar
com a criação de postos de trabalho gerada pela (ainda) tímida retoma
económica. Segundo os dados do desemprego registado do Instituto de Emprego
e Formação Profissional (IEFP), em 2003, os docentes nível intermédio
do ensino, os especialistas em física, matemática e engenharia, os técnicos
de ciências da vida e da saúde, e os directores de pequenas empresas estavam
entre os 10 grupos de profissões com mais desemprego. Um ano volvido,
a situação inverteu-se, sendo estas as profissões onde se verificou a
maior redução do desemprego, com excepção dos directores de pequenas empresas.
De acordo com Mário Ceitil, director-geral da Cegoc, esta tendência
emergente no mercado de trabalho nacional advém do facto de os motores
da economia portuguesa estarem associados às pressões de empresas e
grupos financeiros internacionais ou a empresas portuguesas «de ponta».
«Para funcionarem, este tipo de empresas necessitam de recorrer a pessoas
com competências e qualificações mais avançadas e já com provas dadas
no mercado — são estes sectores económicos os mais dinâmicos na empregabilidade,
o que explica que a retoma seja feita mais à custa das profissões qualificadas»,
explica.
Mark Bowden, director-geral da Hays Specialist Recruitment, corrobora
esta análise, referindo que na primeira metade de 2004 a sua empresa
registou «um aumento de 70% nos pedidos de recrutamento por
parte dos clientes». A mesma tendência de contratação também
é notada na Michael Page, uma empresa de «executive search».
Segundo Manuel Arroja, director-geral daquela entidade, a prioridade
para as empresas é começar a recrutar para funções mais estratégicas
e qualificadas, já que são estas as responsáveis pelo desenvolvimento
e crescimento das organizações. «Depois de ter sido dado este
passo iremos assistir ao recrutamento das posições menos qualificadas,
mediante as novas políticas a serem implementadas», prevê.
Mais desemprego estrutural no horizonte
Todavia, os três especialistas contactados pelo EXPRESSO estão convictos
de que o mercado de trabalho português atravessa uma fase de mudança
profunda, que irá resultar no aumento do desemprego estrutural, maioritariamente
constituído pelos menos qualificados. «Esta tendência é consequência
do fecho e da deslocalização da indústria», comenta Mark Bowden,
apontando que este comportamento é gerado pela combinação da lei laboral
restritiva com a baixa qualificação e salários elevados da mão-de-obra
portuguesa. «Os países de Leste são mais qualificados e com
salários mais baixos, e por isso mais competitivos», acrescenta.
«A mudança estrutural, que já se anuncia, colhe-nos, mais uma
vez, com um atraso significativo em relação aos nossos parceiros europeus»,
critica Mário Ceitil.
Mas apesar do panorama pouco favorável ao país, no curto prazo, o gestor
da Cegoc está confiante de que esta situação criará maior pressão para
o aumento muito rápido das qualificações e melhoria das competências,
maior oferta de meios de educação e de formação e maior mobilidade para
aqueles que conseguirem ter as competências requeridas para a economia
do conhecimento.
«Também mudarão as mentalidades e os paradigmas, norteados por
exigências de maior qualidade e fiabilidade nos bens e serviços e maior
rigor e responsabilidade nos processos de decisão e de gestão empresarial»,
conclui.
Dicas para emprego
1-Seja pró-activo e adopte uma mentalidade ganhadora
2-Mantenha uma «mentalidade de abundância», ou seja, acredite que o
mundo é grande e que é possível vencer através de uma postura «win-win»
3-Mantenha um espírito profissional em tudo o que fizer. Lembre-se:
conseguir um emprego é, mais do que um direito adquirido, uma conquista
pessoal
4 - Pergunte-se sobre os seus projectos pessoais e profissionais
5 - Defina as suas metas; o que espera da nova posição a que se candidata
(posição, importância da empresa, função, salário, responsabilidades,
por exemplo)
6 - Precise o seu projecto profissional: é lógica a sua trajectória?
7 - E o seu projecto é coerente com a sua trajectória profissional?
8 - Porque pretende a posição oferecida? Coincide a sua candidatura
com a função procurada?