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Portugal a Recrutar: o futuro da Engenharia e das TI

Portugal a Recrutar: o futuro da Engenharia e das TI

O cenário nacional na área das Tecnologias de Informação contraria a generalidade do panorama nacional em matéria de empregabilidade. As empresas querem contratar mas faltam candidatos disponíveis no mercado, com as competências técnicas consideradas críticas pelas empresas. Nos últimos anos, os cursos ligados à área tecnológica, em particular de Tecnologias de Informação, têm captado um número crescente de estudantes, mas ainda assim insuficiente para um país que lidou nos últimos anos com a maior vaga de emigração qualificada da sua história. Na semana que antecede a IT & Engineering Job Fair, da iniciativa Portugal a Recrutar, o Expresso faz uma radiografia ao sector tecnológico e aos seus desafios de empregabilidade.

08.04.2016 | Por Cátia Mateus


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Cerca de 15 mil profissionais, especialistas em Tecnologias de Informação, deverão faltar nas empresas nacionais dentro de quatro anos, se não forem tomadas medidas concretas que permitam inverter a escassez de perfis qualificados nesta área. O alerta é da Comissão Europeia e os principais empregadores do sector sentem-no a cada novo processo de recrutamento que iniciam. O país assistiu nos últimos anos à maior fuga de talento qualificado da sua história. A emigração afastou do país e das empresas nacionais, entre os outros profissionais, centenas de engenheiros de diversas especialidades, entre elas as tecnologia de informação. Paula Baptista, líder da consultora de recrutamento Hays, não tem dúvidas de que “esta fuga de talento foi orientada por uma procura de melhores condições de trabalho”, para países e culturas onde os profissionais se sentem verdadeiramente recompensados pelo seu desempenho. Uma realidade que as empresas nacionais devem reconhecer se quiserem atrair de volta talentos numa área onde as dificuldades de contratação aumentam a cada dia.

Mês após mês, a tendência repete-se: as Tecnologias de Informação figuram sempre entre os quatro primeiros lugares na lista de sectores que mais ofertas de emprego geram entre os empregadores que anunciam no Expresso Emprego. Para a especialista em recrutamento esta é uma das áreas nacionais, que está mais próximo do pleno emprego e onde as empresas já se debatem com sérias dificuldades para encontrar os talentos certos, seja porque emigraram, porque não são formados em número suficiente ou porque os que existem não estão disponíveis para mudanças profissionais. Os dados do último inquérito às intenções de contratação das empresas, divulgado recentemente pela Hays, demonstram isso mesmo.

O relatório dá conta de que os profissionais de TI portugueses são os que demonstram menor disponibilidade para mudar de emprego. Durante o último ano, 56% dos profissionais do sector recusaram novas ofertas profissionais. “Na maioria dos casos, a recusa da oferta deu-se por razões de ordem salarial, contratual ou por falta de interesse no projeto”, explica Paula Baptista, enfatizando que as empresas que querem contratar em 2016 devem ter em conta este aspeto. Para contornar as dificuldades de recrutamento na área das TI e atrair de volta a Portugal os profissionais que emigraram, “é fundamental um plano estruturante a nível, que nos permita finalmente valorizar o nosso capital humano e criar verdadeiras oportunidades de desenvolvimento profissional“. Só assim, garante, estarão “reunidas as condições para que possamos reter o talento que ficou em Portugal, mas voltar a acolher os milhares de profissionais altamente qualificados que sairam”.

Onde as empresas apostam
Uma sondagem junto de alguns dos recrutadores que a partir de 10 abril estarão a recrutar na Portugal a Recrutar IT & Engineering Job Fair, permite perceber onde se focam as principais preocupações de recrutamento das empresas e confirmar a dinâmica de contratações que caracteriza o sector e as principais dificuldades que enfrentam nessa missão. O conjunto das empresas contactadas estima criar perto de mil oportunidades de trabalho no sector das tecnologias de informação. A agap2, liderada por Filipe Esteves, tem o seu foco nas áreas de Desenvolvimento, com foco nas tecnologias Microsoft e Oracle. O líder diz não identificar uma área específica onde tenha maior dificuldade de contratação, mas confirma “dificuldades na seleção de perfis entre os três e os cinco anos de experiência profissional”. 

Isabel Ribeiro, diretora de Recursos Humanos, tem outra visão. No último ano a Gfi registou um aumento de 37% no seu volume de contratações. Em 2015, a empresas contratou sobretudo nas áreas de desenvolvimento Aplicacional, Infraestruturas e Redes, Mobilidade e Business Intelligence, “para projetos estratégicos nos sectores ads Telecomunicações, Banca e Administração Pública”. A estratégia deverá manter-se nas 200 contratações que quer realizar este ano. As dificuldades também. “a Gfi tem sentido, cada vez mais, o elevado desequilíbrio entre a oferta e a procura de profissionais de TI, num mercado extremamente competitivo e em contínuo crescimento”. A especialista aponta dificuldades em identificar perfis nas áreas Java, SharePoint, Liferay e Administração de Bases de dados. “A oferta é claramente maior do que a procura”, realça.

A Farfetch também não está imune às dificuldades de captação de talento. A empresa que se celebrizou por ser a única startup com raiz portuguesa e estatuto de empresa “unicórnio”, somando mais de 530 profissionais, confirma a sua dificuldade em contratar “administradores de base de dados, product owners, especialistas em business intelligence e data science”, explica José Bago, Talent Acquisition Manager da empresa. Na KCSiT, Tiago Farinha, diretor-geral, dá prioridade à integração de Gestores de Projeto, Analistas de Negócio e Sistemas, Programadores de diversas áreas técnicas, Arquitetos de Soluções e Administradores de Sistemas e Bases de Dados. As principais dificuldades que sente é quando precisa de contratar profissionais na vertente de desenvolvimento aplicacional, “quer em tecnologias Microsoft, quer nas de open source”.

Também Joana Leal, diretora executiva da Prime IT, confirma dificuldades de recrutamento. A opção da empresa para garantir a captação de talento “tem passado, cada vez mais pelos recrutamentos internacionais e realização de intercâmbios entre profissionais portugueses e estrangeiros”, explica. Já para Tiago Farinha, “é fundamental que as universidades nacionais consigam formar mais profissionais, sem descurar a componente qualitativa da formação e, paralelamente, nivelar o mercado na componente financeira acima do panorama atual, para que o sector se torne mais atrativo quando os nossos jovens tomam a decisão da área que escolherão para o seu futuro profissional”.

A indústria dos serviços partilhados
Nos últimos anos, o país tem atraído o interesse várias multinacionais que instalaram em Portugal os seus centros de serviços partilhados, contribuído para a criação de centenas de novos postos na área tecnológica, e noutras funções essenciais a estas estruturas. A crescente dinâmica do sector impulsionou a criação em Portugal da ASSOP - Associação de Shared Services & Outsourcing Platform, uma joint-venture de quatro sócios fundadores - a Aguirre Newman, no sector da consultoria imobiliária; a Cleverti, nas TIC, o Município do Fundão e a RHmais, no domínio da seleção, formação e gestão de recursos humanos. A plataforma de networking profissional ficou registada com a designação Let's Go-On e visa potenciar a instalação de novos Centros de Serviços em Portugal.

Paulo Loja, diretor Comercial e de Marketing Estratégico da RHmais, uma das empresas fundadoras, realça o cenário de consolidação e crescimento da indústria de Business Services que agrega já mais de 100 empresas e 50 mil profissionais, uma parte significativa deles especialistas nas áreas tecnológicas, “sobretudo de desenvolvimento e de testes” que são os mais difíceis de contratar neste momento, explica. Segundo o especialista, a nível nacional, “o sector dos Business Services em Outsourcing já representará um volume de negócios acima de 1 bilião de euros”. Portugal goza de algumas vantagem em relação a outras geografias, nomeadamente a qualificação dos seus profissionais. Mas para que possa continuar a crescer e criar emprego, o sector precisa de profissionais qualificados.


Quem está a contratar
A iniciativa Portugal a Recrutar vai iniciar no domingo, 10 de abril, a segunda-feira virtual de emprego dedicada ao sector da Engenharia e das Tecnologias de Informação. Há centenas de oportunidades em aberto em empresas nacionais e multinacionais. Conheça alguns dos recrutadores presentes e que perfis procuram.

Agap2
A tecnólica agap2 emprega 335 profissionais recruta a uma média de 30 novos profissionais por ano. Para 2016, a meta de Filipe Esteves, o diretor-geral, é contratar 35 novos profissionais. Na IT & Engineering Job fair, o gestor quer reforçar as várias equipas da empresa de forma transversal, “com especial foco nas tecnologias Microsoft e Oracle” e nas equipas de front-end development e user experience.

Gfi
Nos objetivos de Isabel Ribeiro, diretora de RH da da Gfi Portugal, está a identificação de 200 novos talentos para a tecnológica já este ano. “As áreas de desenvolvimento aplicacional, infraestruturas e redes, mobilidade e business intelligence, para projetos estratégicos com maior enfoque nas Telecomunicações, Banca e Administração Pública”, são a sua prioridade.

KCSiT
Tiago farinha, o diretor-geral da KCSiT, perspetiva contratar este ano entre 80 a 100 profissionais. Entre eles estarão gestores de projetos, analistas de negócio e sistemas, programadores nas diversas áreas técnicas, arquitetos de soluções, administradores de sistemas e bases de dados.

Prime IT
A PrimeiT fixou como meta realizar 150 novas contratações. No Portugal a Recrutar terá 30 vagas em aberto em funções de Gestão, IT e Telecomunicações.

Farfetch
Com uma equipa de mais de 530 profissionais, a Farfecht está focada em contratar 200 profissionais para a sua equipa. José Bago, Talent Acquisition Manager da empresa, quer atrair profissionais da área das TI, com foco na área da programação e de testes de software (funcionais e automação).

NewOutsourcing
Sessenta profissionais é quanto a NewOutsourcing quer integrar este ano. Ana Calado, IT Recruiter da empresa, está focada em identificar arquitetos de soluções de IT, Developers em diversas tecnologias, Project Managers e Analistas Funcionais.

Outsystems
A Outsystems quer aumentar a sua equipa global em 200 colaboradores. No Portugal a Recrutar estará a identificar talento para uma parte destas funções. Mónica Rosendo, Talent Acquisition Manager, revela que a maioria das contratações serão para as equipas de Engineering e Professional Services.

Primavera BSS
Luísa Fernandes, a diretora de RH da Primavera BSS, quer integrar 20 a 30 profissionais na empresa em 2016. No Portugal a Recrutar terá dez vagas em aberto. A área de Investigação e Desenvolvimento será a que merecerá maior reforço.

Techedge?
A tecnológica quer contratar 60 profissionais nos próximos quatro anos. José Cândido Soares, partner da Techedge Portugal, quer atrair profissionais juniores e mais experientes.



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