Cátia Mateus e Maribela Freitas
APESAR da chuva e do frio que se faziam sentir
na cidade de Lisboa, muitas foram as pessoas que ocorreram à Estufa
Fria, à II Feira de Emprego. No olhar levavam a expectativa de
encontrar um novo posto de trabalho.
Nas longas filas para entregar um currículo, num dos 36 expositores
aqui representados, encontravam-se indivíduos de meia-idade e jovens.
O que vem provar que o flagelo do desemprego não escolhe idades
nem qualificações profissionais para se fazer sentir.
De acordo com a organização, terão visitado a feira
mais de 20 mil pessoas para cerca de 2500 ofertas de trabalho. Numa altura
em que os despedimentos aumentam em catadupa, os que estão sem
trabalho aproveitam todas as oportunidades para resolver a sua situação.
O NÚMERO de desempregados em Portugal é assustador
e o drama aumenta quando reparamos que uma parte significativa deste desemprego
é qualificado.
Com a bandeira da crise económica a motivar encerramentos de empresas
e despedimentos em massa, aos desempregados resta procurar uma luz ao
fundo do túnel. Talvez por isso a II Feira de Emprego de Lisboa,
realizada na passada semana, tenha registado um índice de adesão
acima do previsto.
Em pleno dia de abertura, às 11 da manhã de uma sexta-feira,
todos os caminhos iam dar à Estufa Fria. À porta do recinto,
o sentimento geral era de esperança. Jovens e adultos de meia idade
aguardavam pacientemente nas várias filas para entregar um currículo,
esperando que um dos cerca de 2500 empregos disponíveis acabasse
por ser seu. É o retrato de um país, onde o desemprego ameaça
continuar a fazer vítimas.
Catarina Martins, de 25 anos, não esperou pelo fim-de-semana para
visitar a Feira de Emprego. Desempregada há quatro meses, esta
ex-assistente administrativa, depois de responder a anúncios nos
jornais e na internet, foi tentar a sorte no certame. "Procuro
um trabalho na área administrativa e as ofertas apresentadas pelo
'stand' da Adecco, aqui na feira, pareceram-me aliciantes", explica.
De forma calma e paciente, Catarina esperava a sua vez de mostrar o que
vale. À sua frente, na fila para entregar o currículo, estavam
mais de uma dezena de indivíduos, entre jovens e pessoas de meia-idade,
cujo objectivo era também o de conseguirem um emprego. A realidade
é que em Portugal muitas pessoas vivem dias de desespero. Sejam
os jovens ou menos jovens, o facto é que o índice de desemprego
aumentou a instabilidade social e económica no país.
E se para quem é natural do país e fala correctamente a
língua portuguesa é difícil conseguir emprego, para
os estrangeiros os entraves são ainda maiores. Juliete Chantler
é irlandesa e tem 24 anos. Chegou a Portugal em Abril com a promessa
de um emprego para leccionar inglês. Hoje está desempregada
e a Feira de Emprego foi mais uma tentativa para encontrar um posto que
lhe garanta a permanência no país.
A primeira edição da Feira de Emprego de Lisboa, a Jobfair,
entidade organizadora (em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa),
registou cerca de 10 mil visitantes, enquanto a segunda edição
do evento, segundo a organização, teve "entre 20
e 25 mil visitantes". Com 36 expositores, a II Feira de Emprego
de Lisboa surge numa altura particularmente difícil para quem procura
ingressar no mercado laboral. Diz a organização que "o
momento é de grande apreensão para quem procura emprego.
Por isso a adesão foi bastante elevada".
As filas intermináveis e os longos períodos de espera para
quem tentava a sua sorte dominaram os três dias do evento.
"Na primeira edição da feira tínhamos presentes
muitas empresas de trabalho temporário; hoje já encontramos
mais empresas especializadas, que vêem aqui uma boa oportunidade
para encontrar o colaborador ideal", explica uma fonte da organização.
Além de instituições ligadas aos recursos humanos,
outras, nas áreas dos seguros, combustíveis, limpeza e Forças
Armadas marcaram presença. António Ramos, sargento-ajudante,
representando a Marinha, explica: "O nosso intuito é, através
desta presença, cativar os jovens para a Marinha, mostrando-lhes
que é uma carreira aliciante". De acordo com o militar,
os jovens não estão bem informados acerca do que é
a vida no mar e de como funciona a Marinha. Daí a necessidade de
representar este ramo das Formas Armadas nestes eventos.
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) é parceira
da Jobfair na organização da II Feira de Emprego de Lisboa.
Uma participação que Ana Sofia Bettencourt, vereadora-adjunta
da autarquia, quer repetir. "Não é de um dia para
o outro que se resolve a questão do desemprego, mas as autarquias
têm a responsabilidade de se afirmar como elementos activos na estratégia
de combate a este problema", frisa.
A adesão ao "stand" da autarquia lisboeta foi bastante
satisfatória. A CML colocava ao dispor dos visitantes a possibilidade
de se candidatarem a estágios profissionais não remunerados.
Entre as candidaturas registadas, Cristina Mendes, responsável
do "stand", destaca o volume de pedidos para as áreas
da gestão e administração pública, comunicação,
arquitectura, história, direito e "marketing".
Mas a falta de emprego que afecta o país também atinge os
altamente qualificados. Constança Sousa é licenciada em
Economia e está desempregada desde Agosto. A sua experiência
profissional no estrangeiro não foi suficiente para assegurar o
posto de trabalho na altura em que a empresa, semipública, onde
trabalhava teve de "congelar" as entradas para o quadro.
Desde então, tem procurado emprego, e, para não ficar parada,
optou por ingressar num Mestrado. O futuro, diz, é incerto, mas
"é preferível esperar e encontrar uma função
adequada à minha formação e que me dê prazer
do que aceitar um trabalho para o qual não estou minimamente motivada".