Marisa Antunes
Quem não apanha o comboio da conduta empresarial em matéria de responsabilidade social e de desenvolvimento sustentado na sua actividade arrisca-se a pagar uma factura demasiado penalizadora para os seus resultados. Uma tendência global que está a formatar políticas e estratégias nas organizações que não querem sair fora do contexto do eticamente correcto junto de todos os seus parceiros. Portugal não é excepção e, nos últimos anos, tem sido crescente o número de empresas com preocupações sociais e ambientais a actuarem numa dupla lógica de sobrevivência da própria empresa e contributo para o planeta.
Para multiplicar ainda mais esse número e contribuir para a consciencialização dos empresários, a Associação Industrial Portuguesa Confederação Empresarial (AIP-CE), juntou esta semana em Lisboa, mais de um milhar de grandes, pequenos e médios empresários e executivos na 3ª edição do Fórum da Responsabilidade Social das Organizações e Sustentabilidade.
Um dos convidados da AIP foi John Elkington, considerado uma autoridade a nível mundial em matérias como o desenvolvimento sustentável e co-fundador da SustainAbility e da Volans (organizações que se dedicam à responsabilidade corporativa e à inovação social e ambiental dentro das empresas). Autor da máxima Triple Bottom Line («people, planet, profits»), como fórmula de sucesso das empresas, John Elkington respondeu também ao ExpressoEmprego a questões que se relacionam como a actual (e futura) conjuntura económica e de que forma podem as empresas em ambiente economicamente repressivo, ainda assim, manter elevados os níveis de desenvolvimento sustentado.
Preparados para o futuro? Para o especialista, não existem negócios sustentáveis: Mais tarde ou mais cedo, uma boa parte das empresas acaba por fechar. Estas são as más notícias. As boas é que as organizações que acompanham a agenda da sustentabilidade estão mais bem preparadas para o futuro que terá oito milhões de pessoas em 2025 e acima de nove milhões em 2050. Um mundo onde serão cada vez mais escassos recursos como a água ou onde as operações empresariais estarão debaixo de um intenso escrutínio em todas as vertentes. O enfoque não será mais a forma como as empresas se esforçam em ser ‘boas' e solidárias mas sim sobre o futuro do capitalismo como forma dominante de criar valor económico no planeta.
Considerado um dos maiores impulsionadores da responsabilidade corporativa, John Elkington lembra que o futuro se apresenta complexo, com desafios crescentes ao nível social , económico, ambiental e político. "Eu já assisti a outros períodos de recessão e vi a forma como os orçamentos das empresas, nessas alturas, emagrecem em relação à saúde ou ao ambiente. Isto vai voltar a acontecer. Mas ao mesmo tempo, a turbulência económica e política acaba por providenciar oportunidades potencialmente melhores para desenvolver e melhorar tecnologias e modelos de negócio com impacto directo a nível social e ambiental. É, aliás, neste âmbito que recentemente lançámos a Volans Ventures, uma organização que ajuda as empresas a inovar e a adaptarem-se aos desafios que agora se impõem à sustentabilidade".
O passo número um para enfrentar as mudanças, defende John Elkington, passa pela construção de um mercado inteligente que se ajuste às novas condicionantes. É interessante ver como o movimento da sustentabilidade lança as directrizes mundiais. O US National Intelligence Council publicou recentemente o seu relatório Global Agenda 2025, que será usado pela equipa de Barack Obama na definição das suas políticas. Nele sublinha-se que temas como as mudanças climatéricas, a gestão racional da água, da energia e a saúde do ecossistema na sua globalidade serão factores críticos e decisivos nas próximas décadas.
A questão agora é saber como se vão repartir estas prioridades. Os governos, se forem inteligentes, deverão trabalhar em conjunto com as grandes empresas para em conjunto conseguirem enfrentar os desafios que aí vêm, remata ainda John Elkington. A AIP lançou o mote da sustentabilidade e aproveitou para lançar esta semana, durante o Fórum, a Rede Nacional de Responsabilidade Social das Organizações. Com o objectivo de dinamizar actividades de responsabilidade corporativa em Portugal, esta rede foi desenvolvida no âmbito da iniciativa comunitária EQUAL e é fruto de uma parceria entre mais de 200 empresas privadas e da administração pública, associações e organizações não governamentais, coordenadas pelo Instituto de Soldadura e Qualidade.