Chama-se Newton, tem um ano, é português (apesar de ter nascido no berço da tecnologia, Silicon Valley, EUA) e já vale €4,5 milhões. Não é humano, é tecnológico, mas ajuda os humanos naquilo que antes era impensável que as máquinas pudessem fazer e que era uma das tarefas mais críticas para as empresas, identificar e recrutar talento. Newton é um chatbot, (programa que simula a conversação com humanos). Seleciona e entrevista candidatos a emprego através do Messenger (Facebook) ou do LinkedIn. A Nike é uma das utilizadoras da tecnologia desenvolvida pelos portugueses Hélder Silva e Rui Costa.
À boa maneira das mentes inovadoras, a dupla de portugueses chegou ao Newton quase por acidente. Não era bem este o projeto inicial, mas enquanto investigavam para criar uma rede de alumni que aproximasse o talento académico aos recrutadores, perceberam que o negócio estava afinal ao lado. A tecnologia desenvolvida por Hélder Silva e Rui Costa, que originou a criação de uma startup com o mesmo nome, permite encontrar nas redes sociais candidatos adequados a uma posição “em apenas 20 minutos”.
Através de uma solução de inteligência artificial que cruza o deep learning (dispositivos inteligentes capazes de funcionar sem interação humana) com o processamento da linguagem natural, a dupla desenvolveu um sistema que consegue chegar à melhor correspondência entre candidatos e funções disponíveis. Mas o chatbot vai mais longe. Como o próprio nome indica, é capaz de entrevistar candidatos para avaliar a sua disponibilidade e interesse em integrar o processo de candidatura, tudo isto através dos chats do LinkedIn ou do Messenger (Facebook).
O sistema, explica Hélder Silva, cofundador do Newton, “não só torna o processo de identificação de talento muito mais rápido como evita que os recrutadores percam tempo a contactar candidatos que podem ser ótimos para a função, mas não estão interessados na vaga”. Os 80 mil candidatos que o Newton já aproximou das empresas, nos Estados Unidos onde o protótipo foi desenvolvido e onde conquistou os primeiros clientes — startups e multinacionais, entre as quais a Nike —, parecem comprovar a fiabilidade do sistema.
A startup foi alvo de investimentos de 400 mil dólares (€353 mil) pela Universidade de Oxford e pelo Will Group, um dos gigantes do recrutamento no Japão. Um investimento que permitirá a expansão da empresa para aquele país e também para Portugal, “onde preparamos entrada já no próximo mês”, explica Hélder Silva. Em território nacional, a empresa está já incubada na Startup Lisboa e o sistema encontra-se em fase piloto, para já apenas para posições técnicas e em língua inglesa. “Um dos desafios associados à expansão do Newton é que em cada novo país é preciso todo um trabalho exaustivo de adaptação à linguagem local e treinar algoritmos para as especificidades da região em causa”, explica.
É que Newton lista as ofertas de trabalho pelas competências necessárias e não pelo seu sentido literal. “Isto permite eliminar todas as barreiras que impedem um candidato de chegar à sua oportunidade de emprego ideal”, realça. Mas tranquilizem-se os mais tradicionais: o objetivo não é substituir totalmente a intervenção humana nos processos de recrutamento. Ela será sempre necessária, garante.