Cátia Mateus e Fernanda Pedro
O MERCADO de trabalho da União Europeia (UE) ainda
segrega o sexo feminino. A conclusão é da Agência
Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (AESST) que,
num relatório agora divulgado, analisa a "Problemática
do género na segurança e saúde no trabalho".
A agência avança que "os ambientes de trabalho a
que as mulheres e os homens estão expostos, bem como o tipo de
exigências e pressões a que estão sujeitos, são
diferentes, ainda que no mesmo ramo de actividade e na mesma profissão".
A segregação denunciada pela agência ocorre não
só entre sectores de actividade como também entre cargos.
Nas suas conclusões, a AESST revela que, "muitas vezes,
as tarefas desempenhadas por uma mulher num determinado cargo são
diferentes das desempenhadas por um homem, exactamente no mesmo posto".
As condições de emprego também não são
favoráveis para as mulheres. Tendencialmente, o sexo feminino
é mais afectado pelo trabalho precário e por actividades
mal remuneradas.
Nos locais de trabalho, há também uma forte segregação
vertical. Os homens, diz o relatório, "continuam a ter
mais possibilidades de ocupar posições de chefia".
As mulheres predominam na modalidade de trabalho a tempo parcial.
Esta conjuntura, agravada pelo facto de as mulheres terem tendência
a manter a mesma actividade por períodos mais longos que os homens,
contribui para agravar os riscos de doenças profissionais entre
o sexo feminino.
A agência alerta para o facto da desigualdade entre sexos, tanto
no local de trabalho como fora dele, ter "também repercussões
para a segurança e saúde das mulheres, existindo uma forte
ligação entre problemas de descriminação
mais alargados e a saúde".
As mulheres continuam ainda a ter a seu cargo as tarefas domésticas
não-remuneradas e a responsabilidade do tratamento das crianças
e dos familiares. Tarefas que, acrescidas à situação
profissional quotidiana, representam uma pressão suplementar,
sobretudo nos casos em que haja incompatibilidade entre o horário
de trabalho e a vida privada.
Face a estas diferenças substanciais nas condições
de trabalho entre ambos os sexos, a agência conclui que "os
riscos para a segurança e saúde relacionados com o trabalho
a que estão sujeitas as mulheres têm sido subestimados
e negligenciados, tanto na investigação como na prevenção,
face aos mesmos riscos a que estão sujeitos os homens".
Um desequilíbrio que "deve ser tido em conta ao nível
da investigação, sensibilização e prevenção",
frisa a AESST.
Aquela organização apela no seu relatório à
necessidade de consolidação de iniciativas estruturadas
tendo em vista a melhoria das condições de trabalho em
ambos os sexos, já que "as mulheres estão sub-representadas,
a todos os níveis, no processo de tomada de decisão em
matéria de saúde e segurança no trabalho".
Na base do relatório elaborado pela AESST está a análise
das diferenças em função dos géneros no
local de trabalho. São contabilizados factores como a ocorrência
de ferimentos e a prevalência das doenças de origem profissional,
bem como a avaliação da falta de conhecimentos e as respectivas
implicações para a melhoria da prevenção
dos riscos.
Sexos divididos nos riscos
OS RISCOS e as consequências para a saúde das diferentes
profissões divergem para ambos os sexos.
No caso das mulheres, existem tarefas que as expõem mais a determinadas
doenças, nomeadamente ao stresse.
Apesar das taxas serem elevadas também para os homens, são
elas quem mais sofre com esta doença, sobretudo quando confrontadas
com o assédio sexual, a discriminação, o trabalho
mal reconhecido, uma actividade exigente do ponto de vista emocional
e o fardo do "duplo emprego" (o profissional e o doméstico).
São igualmente as mulheres as mais vulneráveis aos problemas
de asma e alergia, bem como doenças de pele. Algumas das causas
são os produtos de limpeza, de esterilização, dos
pós de luvas de protecção em latex utilizadas nos
cuidados de saúde e das poeiras na indústria têxtil
e do vestuário.
O contacto com a água em sectores como o da restauração,
com agentes de limpeza e produtos químicos de cabeleireiro são
prejudiciais para as mãos e pele. São também elas
as mais penalizadas com distúrbios dos membros superiores provocados
pelo ritmo de algumas tarefas altamente repetitivas.
Quanto aos homens, estão mais expostos a acidentes de trabalho.
Nomeadamente quando se trata de elevação de cargas pesadas.
A exposição ao ruído com a consequente perda de
audição é mais frequente surgir no sexo masculino.
A taxa do cancro profissional é igualmente mais elevada nos homens.
Relativamente às consequências para a saúde das
horas de trabalho inadequadas, as incidências são iguais
para ambos os sexos. Os homens trabalham mais horas suplementares remuneradas,
enquanto que as horas suplementares das mulheres consistem no trabalho
doméstico não remunerado.