Ruben Eiras
NAS últimas duas décadas do século passado, o aumento da
participação das mulheres portuguesas no mercado de trabalho foi acompanhado
de uma diminuição na taxa de fertilidade. Com efeito, enquanto em 1980,
cada mulher gerava, em média, 2,3 filhos, em 2000 esse valor baixou para
1,4. A média da OCDE é de 1,8. Por sua vez, a taxa de actividade laboral
feminina em 1980 situava-se pouco abaixo dos 50%, passando para mais de
60% no ano 2000. Os resultados estão no último relatório daquela organização
da série «Babies and Bosses: Reconciling Work and Family Life».
De acordo com a análise daquela organização, esta tendência pode ter
graves consequências negativas no que diz respeito à oferta de mão-de-obra
no futuro e à sustentabilidade financeira dos sistemas de segurança
social.
Uma das principais causas para esta situação em Portugal é o adiamento
da idade em que os jovens adultos estabilizam as suas carreiras. Segundo
a OCDE, isto não só é gerado pela educação mais prolongada e pela entrada
mais tardia no mercado de trabalho, mas também pela alta taxa de compra
de habitação.
«A análise mostra que os países onde a taxa de proprietários é mais
elevada — em Portugal é de 75% — e a compra de casa é comum para jovens
adultos, os aumentos dos preços das casas contribuem para o adiamento
da formação de família», lê-se no documento.
Para inverter esta situação, a OCDE sugere que Portugal tome como exemplo
os países escandinavos. Este conjunto de nações também possui uma taxa
de participação feminina na ordem dos 60% (como Portugal), mas as suas
taxas de fertilidade mantêm-se na média da OCDE, assegurando assim a
renovação da sua população.
«Isto indica que as políticas estatais mais promissoras para
aumentar as taxas de fertilidade são as que oferecem um serviço de creches
com qualidade e a preços aceitáveis, como também promovem empregos qualificados
em sistema de tempo parcial», remata o relatório.