Potenciar e humanizar o trabalho
Por João Salgado, Gestor de Recursos
Humanos
Nunca gostei da escola e esse foi o principal motivo
para que tivesse optado por fazer carreira em Recursos Humanos! Eu explico...
Nos meus tempos de estudante era um activista, estava sempre a reivindicar
melhores condições para os alunos. Fui presidente da Associação
de Estudantes e uma das minhas funções era a de comunicar
ao Conselho Directivo e ao Conselho Pedagógico as queixas dos alunos:
infra-estruturas insuficientes, más condições das
infra-estruturas existentes, excesso de trabalhos, fraca qualidade do
ensino e a consequente falta de preparação para os exames,
e a lista podia continuar...
Andava já no 11º ano e quando me perguntavam que curso queria
tirar, dizia sem convicção que queria ser advogado. Sentia-me
mal na escola, os programas curriculares não se adaptavam às
necessidades dos alunos, mandavam-me fazer trabalhos e ler livros que
nada tinham a ver com as minha aptidões e tinha sérias dúvidas
acerca da utilidade profissional de muitas matérias que me queriam
ensinar. As salas eram frigoríficos no Inverno e saunas no Verão,
as cadeiras e mesas pareciam saídas do ferro velho, não
havia computadores para todos e as relações com os professores
eram distantes.
Enfim...não dava gosto estudar.
"Como é que eles querem que tenhamos aproveitamento escolar
se não nos oferecem condições para trabalhar?"
Eram questões como esta que faziam parte das minhas incursões
reivindicativas, como aluno e presidente da Associação de
Estudantes, aos órgãos superiores da escola e foi numa dessas
incursões que a presidente do Conselho Directivo me disse: "Tu
tinhas jeito para político! Ou então para Recursos Humanos!"
E eu perguntei-lhe: "O que é isso?" Está tudo
explicado...
Hoje sou gestor de Recursos Humanos numa empresa de telecomunicações.
As minhas funções passam por recrutar colaboradores que
tenham o perfil adequado para os objectivos da empresa e adaptar os colaboradores
aos "programas curriculares empresariais", ajustando as aptidões
de cada um às funções que lhes são atribuídas.
Outra área de que me ocupo é a de desenvolver novas competências
através da promoção de acções de formação
profissional, enriquecendo o valor laboral dos colaboradores e da empresa.
De uma maneira geral, trata-se de simultaneamente potenciar e humanizar
o mais possível o trabalho. Isto implica uma preocupação
com as necessidades da empresa e, logo, dos colaboradores - tanto a nível
profissional como humano. Para tal é preciso que o trabalho seja
também agradável - em questões como a gestão
inteligente do local de trabalho e as relações entre os
profissionais e empresa.
Às vezes, no meu emprego, recordo a minha fase estudantil e sinto-me,
de certa forma, como presidente da Associação de Estudantes
a uma escala empresarial. É um paralelismo curioso! Agora tenho
a possibilidade de fazer pelo bem-estar dos colaboradores o que significa
o bem-estar da empresa. Recursos Humanos é isso mesmo, é
olhar pelos "alunos" zelando sempre pelos interesses da "escola".