Diogo Alarcão
Market Leader da Mercer
Durante anos os cursos técnicos foram fundamentais como alternativa aos chamados cursos superiores. Dizia-se que serviam essencialmente pessoas que, por diversas razões (financeiras, económicas ou sociais) não conseguiam almejar o sonho universitário. Infelizmente, foram sendo desconsiderados, conduzindo à redução significativa do número de trabalhadores com qualificações técnicas.
O resultado foi um mercado de trabalho desequilibrado, com um número crescente de licenciados afectados pelo trauma do desemprego, ao mesmo tempo que as empresas desesperam por encontrar profissionais com as qualificações técnicas necessárias. A solução encontrada para colmatar este défice da oferta foi uma injecção de financiamento comunitário para dar resposta às necessidades de qualificação profissional.
Em boa hora, este Governo percebeu a necessidade de voltar a promover, dinamizar e investir na formação técnica. São boas notícias! E não somos os primeiros a fazê-lo. A Alemanha sempre apostou, com sucesso, nos cursos técnicos. Após a conclusão do ensino obrigatório, cerca de 60% dos jovens iniciam a sua formação em mais de 350 ofícios reconhecidos (sistema DUAL). Com uma forte componente prática desenvolvida em ambiente empresarial e aliada a uma componente teórica com correspondência directa, a taxa de desemprego entre os jovens é consideravelmente reduzida.
Também em Portugal já existem sinais positivos e boas práticas. A ATEC-Academia de Formação, fundada em 2003 pela Siemens, VW Autoeuropa, Bosch e Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã, tem vindo a desenvolver um trabalho muito meritório na formação de quadros técnicos altamente qualificados em várias áreas de actividade.
Penso que será estratégico para o país criar condições para que os cursos técnicos recuperem o papel que já tiveram no passado, aproximando o ensino às reais necessidades das empresas e potenciando as oportunidades de emprego para os jovens.