Apostar numa carreira emocional,
por Madalena Gonçalves - Jornalista
Falavam do "bichinho" no jornalismo e eu
sempre achei que também tinha sido picada por ele. Confiei no meu
instinto e entrei para a Universidade, no curso de Comunicação
Social.
Com o passar dos anos e com toda aquela teoria, comecei a duvidar da picada!
A minha atracção por investigação e reportagens
de rua foi completamente apagada. Se o jornalismo era aquilo que os livros
diziam, então não estava vocacionada. O fim do curso foi
doloroso. Quatro anos a estudar para quê??? E agora?
O próximo passo foi arranjar emprego! Por mim, ia estudar outra
coisa, mas os meus pais já me tinham sustentado todos estes anos
e estava na altura de ir fazer pela "vidinha".
Nunca me ensinaram a procurar emprego, mas a experiência alheia
dizia-me que o procedimento era o habitual: elaborar uma carta de apresentação
a acompanhar o currículo, responder a anúncios, entregar
currículos e esperar (sentada) por entrevistas. Até aqui
tudo bem! Mas o que é que eu ia meter no currículo? Só
os estudos??? Muito pobre... Esta consciência matava-me! Inventar
seria uma boa solução, mas justificar-me nas entrevistas...
não me parece.
Decidi tornar o meu currículo original e fazer uma carta de apresentação
bastante apelativa. Isto claro, dentro dos parâmetros estabelecidos
para construir um CV e uma carta de apresentação. Agora
restava-me esperar...
A primeira entrevista que surgiu foi um autêntico trauma! Como comportar-me
e o que dizer foram algumas das MUITAS preocupações. Até
uma dor de barriga, de última hora, me surgiu! Digam o que disserem,
mas a primeira vez custa sempre!
Depois, constatei que todo aquele meu nervoso tinha sido patético.
A entrevista correu lindamente e o entrevistador não parava de
elogiar o meu currículo. Acreditem que até hoje não
sei porquê!
Consegui o emprego e tornei-me JORNALISTA! Mas a motivação
era realmente nula. No entanto, decidi investir na carreira e apelei às
minhas capacidades para concretizar os objectivos. Apostei no meu coeficiente
emocional (QE).
Tinha lido uns livros que falavam na importância do QE para o sucesso
a todos os níveis. No campo profissional, diziam que as empresas
deviam dar mais atenção ao QE do que ao QI (coeficiente
de inteligência). Isto porque era fundamental que as pessoas desempenhassem
o seu trabalho de acordo com os seus interesses, comportamentos, aptidões
e características afectivas.
Tive uma conversa muito séria com a minha editora e disse-lhe aquilo
para que, realmente, me sentia vocacionada. O meu potencial e produtividade
eram reduzidos e mal aproveitados se me limitasse a escrever uns textos
a partir dos telex.
Ela ouviu e decidiu apostar, também, em mim. Se me desse mal, ia
para o desemprego!
O trabalho era imenso. Entrevistas aqui, reportagens ali, deslocações,
etc. O cansaço era visível, mas estava a adorar e não
parava de receber elogios pelo meu trabalho. Revelei-me uma pessoa capaz
de lidar bastante bem com o stress, de gerir o tempo e a minha carreira.
Sinto-me bem no meu emprego e tenho ambição de ainda ficar
melhor. Acho que o importante é seguir o nosso instinto e ter pessoas
que acreditem naquilo que nós podemos e somos capazes de fazer.