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Relógios, Zeitgebers e sincronização



01.01.2000



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Relógios, Zeitgebers e sincronização

A maioria dos ritmos biológicos são produzidos por sistemas bioquímicos e/ou anatomo-fisiológicos auto-oscilantes: os relógios biológicos. Como exemplos, temos o nódulo sinoatrial no coração, uma rede de células especializadas que, de modo auto-sustentado, gera ritmicidade eléctrica que se espalha por todo o miocárdio através de uma rede de fibras especializadas (feixe de His e rede de Purkinge). Outro relógio importante no humano é o núcleo supra-quiasmático, que como o nome indica, é um núcleo neuronal hipotalâmico situado por cima do quiasma óptico. Este relógio gera um ritmo circadiano de sono-vigília auto-sustentado, em cooperação com a glândula pineal (produtora de melatonina).

Como os relógios artificiais de pulso, os relógios biológicos possuem uma estrutura oscilante (oscilador), estruturas de output (os pioneiros do relógio) e estruturas de input (para acertar o relógio). No relógio do sono-vigília, o oscilador é o núcleo supra-quiasmático (NSQ), o output são as flutuações da melatonina no plasma e as vias de input são os feixes retino-hipotalâmicos que permitem a sincronização da ritmicidade do NSQ pelas flutuações da luz do ambiente (ciclo claro-escuro).

Na ausência de ciclo claro-escuro o NSQ apresenta um ritmo com um período espontâneo (t) de cerca de 33.5 horas. Os feixes retino-hipotalâmicos permitem que o ciclo claro-escuro arraste o NSQ para um período sincronizado (t) de 24 horas.
A este processo de alinhamento dos períodos e acrofases dos ritmos por factores externos ao relógio chama-se arrastamento ou sincronização externa. Os factores externos ao relógio de natureza rítmica que arrastam ritmos biológicos chamam-se sincronizadores ou Zeitgebers (do alemão, Zeit=tempo;

geber=dar). O ciclo claro-escuro é um exemplo de um Zeitgeber.
O que acontece frequentemente no trabalho por turnos é um arrastamento de ritmos por alterações nos Zeitgebers, o que determina uma dessincronose em virtude de os ritmos não possuírem as mesmas velocidades de arrastamento face aos diversos sincronizadores. Por outro lado, nos humanos a maioria dos ritmos biológicos arrastam-se mais depressa no sentido horário (atraso) do que no sentido anti-horário. Assim, as rotações anti-horárias no TT são cronofisiologicamente contra-indicadas. Contudo, não são apenas os factores fisiológicos que pesam na problemática do TT.

Outro aspecto a ter em conta nos estudos sobre o TT é o efeito de mascaramento (masking effect). Consiste em alterações na "forma" da curva (representação gráfica do ritmo) em resultado de interferências. Por exemplo, dormir baixa a temperatura corporal e permanecer acordado aumenta-a. Assim, se um indivíduo, que dorme habitualmente de noite e está activo de dia, permanece acordado numa determinada noite e dorme na manhã seguinte, a sua curva da temperatura apresentar-se-á achatada de manhã e "elevada" à noite, podendo mesmo a curva aproximar-se de uma recta.

Isto é, embora o relógio não se altere por arrastamento (uma só noite), o ritmo expresso apresenta uma alteração de amplitude. Em suma, os efeitos de arrastamento dizem respeito a alterações de acrofases, enquanto que os efeitos de mascaramento dizem respeito a alterações de amplitudes.

Fonte RHM (continua)






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