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«Só faço aquilo que quero»

04.07.2003


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Fernando Pedro

ARTISTA é algo com que João Cóias não se define. "É uma palavra muito vaga e artista plástico é um estado de espírito e não uma profissão", considera João Cóias, um publicitário que deixou para trás uma carreira de 15 anos na publicidade para se dedicar "de corpo e alma" à concepção de obras de arte.


Depois de um percurso ascendente na área da ilustração e publicidade, João Cóias decidiu mudar o rumo da sua vida e encontrar-se a si próprio, "neste momento vivo apenas para mim e para aquilo que me dá prazer realizar. Dou asas à minha criatividade e não aceito encomendas de ninguém".

Reconhece que passou um momento difícil quando fez a transição da publicidade para a arte mas tudo foi calculado. Em 1996, tomou uma decisão, deixar a carreira de publicitário em 2000. Durante quatro anos preparou a sua saída e na viragem do milénio dedicou-se exclusivamente à sua arte.

"Passei de uma vida completamente alucinante para uma paz de espírito inimaginável", lembra. Mesmo perdendo nove quilos nesse período, João Cóias, sentiu todo o seu esforço recompensado quando terminou a primeira peça. A sua primeira exposição foi totalmente preparada por si, investiu de forma a que fosse a sua festa de entrada no mundo da arte e considera que foi um sucesso.

A arte foi um legado familiar

João Cóias, nasceu há 45 anos em Lisboa. A veia artística foi um legado familiar. "O meu pai apesar de ter sido juiz, sempre gostou de arte e queria mesmo seguir as Belas Artes", recorda. Foi por isso, que desde os nove anos que Cóias transmite as suas emoções através da "ponta" de um lápis ou de um pincel.

Aos 18, já ilustrava livros e jornais. Com esta vocação nata, João Cóias só podia tirar um curso nesta área e assim em 1977 entra para o IADE onde completa o curso de design gráfico e industrial. "Não fui para as Belas Artes porque a escola estava fechada na altura e quando terminei o meu curso já não me identificava com ela", explica.

Nos meados dos anos 80 surgiu a oportunidade de ir trabalhar numa agência multinacional de publicidade como Art Director. "Nesta altura tomei conhecimento directo com o trabalho 'stressante'", recorda.

Dois anos depois mudou para outra e ao fim de um ano, formou a sua empresa e começou a trabalhar como "outsider". Nesta altura, João Cóias trabalhava mais mas também ganhava mais, contudo, considera esta profissão, "muito desgastante e a determinada altura, perde o brilho".

Neste período da sua vida, João Cóias, trabalhava mais de 18 horas por dia mas fazia-o por gosto e em consequência disso foi recompensado com alguns prémios de publicidade.

Chegou então 1996 e o publicitário decide preparar-se para a retirada, "queria fazer o que me apetecia mas também tinha consciência que tinha de ter capital para investir numa coisa que se chamava 'eu'", explica.

Quando em 2000 parou e olhou-se no espelho, sentiu algum receio porque não sabia se conseguia provar a si mesmo que seria capaz de viver só para a sua arte. Ainda vacilou algumas vezes, indeciso se não voltaria à publicidade mas essas incertezas cessaram quando terminou a primeira peça, "nessa altura ultrapassei todos os medos".

A primeira exposição com o título "Concepts" num armazém das docas de Santos, foi feita à sua medida. "Investi para que tudo fosse realizado como que queria e foi um grato privilégio te sido aceite. Mas mais importante do que tudo isso, é ter ido ao encontro de mim mesmo", João Cóias, realça o facto de só agora ter conseguido encontrar-se com o seu interior.

O artista considera que acima de tudo é um experimentalista, já que gosta de trabalhar e explorar todos os materiais. Tem conseguido comercializar as suas peças, mas "não vivo disto mas sim para isto", garante mesmo que nunca irá trabalhar por encomenda, "estou a fazer um percurso meu e enquanto puder vou fazer aquilo que quero".

Os momentos mais importantes da sua carreira, foram sem qualquer dúvida, "a minha primeira campanha publicitária e a minha primeira peça". A mais negativa foi "ter de pactuar muitas vezes com a incompetência".

Aos mais jovens que tenham também a vocação pela arte, João Cóias aconselha a nunca desistirem. "Se acreditam, não deixam de lutar para conseguir fazerem aquilo quem gostam nem que para isso tenham de vender a trás de um balcão".





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