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Quem quer ser político?

02.04.2004


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Cátia Mateus/Fernanda Pedro
e Maribela Freitas

NUMA altura em que a imagem dos políticos se encontra um pouco desgastada, o EXPRESSO quis saber o que motiva os jovens a seguir esta actividade. Do Partido Social Democrata (PSD) ao Bloco de Esquerda (BE) os jovens são unânimes em afirmar que a política não é uma carreira, mas sim um exercício de cidadania. Idealistas como só os jovens sabem ser, dizem que foi a vontade de mudar o mundo que fez muitos deles ingressar na política.


Jorge Nuno Sá, de 26 anos, é licenciado em farmácia e não hesitou em abraçar a liderança da Juventude Social Democrata (JSD).

Para o jovem, com dez anos de experiência partidária, "a política não é uma carreira, é um serviço ao país. Faz-se de causas e de contributos e o que atrai os jovens é a possibilidade de mudar o país para melhor".

Confessa que o cargo que ocupa lhe rouba tempo para a sua actividade profissional, mas, ainda assim, insiste em não colocar de lado a profissão e neste momento frequenta uma especialização em análises clínicas, até porque "nada é eterno".

Seguro de que os jovens políticos de hoje não são nem melhores nem piores que os de ontem, mas "diferentes por força do enquadramento e da mudança de causas", Jorge Nuno Sá acredita que o futuro da política passa por uma aproximação entre eleitos e eleitores.

Jamila Madeira é aos 28 anos deputada à Assembleia da República (AR) pelo Partido Socialista (PS) e secretária-geral da Juventude Socialista (JS).

Conta que "foi a vontade de lutar por mais justiça social e por aquilo em que se acredita", o que a motivou e motiva a prosseguir a actividade. Filiada desde os 14 anos no PS, foi assumindo cargos de relevo.

Economista, confessa que "nem sempre foi fácil conciliar o estudo com a política". Terminou o curso e exerceu economia até ao ano 2000, altura em que passou a acumular com o cargo de deputada - eleita pela primeira vez em 1999 - e com a liderança da JS.

"A partir daqui foi muito difícil conciliar todas estas actividades e optei pela política. Mas considero que esta não é uma carreira, mas sim um exercício de cidadania". Quando já não fizer sentido continuar, deixará de assumir cargos políticos, mas não de exercer a sua consciência política.

Políticos por convicção

Também com 28 anos, o gestor Carlos Andrade conduz os destinos da Juventude Popular (JP). Não tem dúvidas de que "é a noção de estar a prestar um serviço público e utilizar as nossas ideias a bem da sociedade" que levam os jovens à política.

Acumula a liderança da JP com a profissão e garante que "é necessária muita dedicação e boa gestão de tempo para conseguir conciliar estas actividades". Este político contraria a ideia de que o país vive uma crise de vocações políticas.

"Entre as camadas mais jovens há pessoas com muito valor, em todos os quadrantes políticos", refere. E embora considere que a classe é mal remunerada, confessa que gostaria de chegar a deputado.

Um pouco mais nova, Margarida Botelho, de 27 anos, tornou-se militante da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) há sete anos. Hoje é um dos elementos mais velhos da direcção nacional e, apesar de estar a tempo inteiro, não considera a sua actividade como profissão.

"Estou aqui por convicção, pela vontade de transformar e construir uma sociedade melhor", refere.

Para a militante não é a carreira que move a maioria dos jovens comunistas, pois "ninguém ganha por ser do PCP. Para muitos, admitir publicamente que o são pode revelar-se perigoso, devido à possibilidade de represálias sociais e profissionais".

Na sua opinião o que afasta os jovens da política são os discursos dos políticos e a própria AR. "A participação pode ser social, cultural, educacional e é isso que move a grande parte dos jovens comunistas", revela.

Foi por não se conformar com o «estado das coisas», que Miguel Reis se filou aos 18 anos no antigo Partido Socialista Revolucionário (PSR).

Com a integração do PSR no BE, passou a militar nesta nova estrutura e, aos 25 anos, faz parte da Mesa Nacional e da Comissão Executiva do BE e é o responsável pela área da juventude. Está também a estudar filosofia.

"A actividade política não é uma carreira e surgiu na minha vida pelo desejo de mudar a sociedade", refere. Na sua opinião "são poucos os jovens a intervir activamente na política, muitas vezes porque começam a trabalhar muito cedo e a ter pouca disponibilidade".

Aos 38 anos, Luís Rodrigues é deputado à AR pelo PSD e conta com 17 anos de actividade política. Engenheiro civil de profissão, deixou esta actividade em prole da política.

"Gosto mais da actividade autárquica mas, como deputado, tenho a oportunidade de lutar pelos direitos de quem me elegeu". Considera também que "a política não é uma carreira e nesta actividade não se têm cargos vitalícios".

Formação para a política

IVONE Moreira é coordenadora executiva do programa de pós-graduação, mestrados e doutoramento em ciência política e relações internacionais do Instituto de Estudos Políticos (IEP) da Universidade Católica.

A realidade que conhece permite-lhe concluir que muitos dos jovens que frequentam os cursos desta instituição ambicionam alcançar cargos de decisão. Entre os ex-alunos de Ciência Política da Católica figuram secretários de Estado, deputados e autarcas.

A responsável acredita que "os jovens procuram uma preparação teórica para compreender melhor os problemas e decidir conscientemente".

Ivone Moreira assegura que os cursos do IEP recebem alunos, intelectualmente curiosos com expectativa de que a formação lhes traga oportunidades quer na política, no jornalismo qualificado ou na carreira diplomática.

Nesse sentido reconhece que os jovens procuram fundamentar teoricamente aquilo que são as suas inquietações e perplexidades, relativamente ao «modus vivendi» da sociedade em que se inserem e onde querem actuar, esclarecidamente, no plano político.

Para o comprovar, estão os números que revelam que cerca de 25% destes alunos já têm um compromisso activo na vida partidária.





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