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«Portugal deve apostar no turismo do conhecimento»

09.06.2004


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Ruben Eiras

PARA Portugal aumentar a atracção de "cérebros", a aposta deve concentrar-se no desenvolvimento do turismo do conhecimento. "Este conceito turístico consiste na criação de actividades e locais que atraiam turistas do conhecimento, ou seja, pessoas que buscam não só conhecer o país, mas também trocar ideias e capital intelectual com indivíduos da mesma área profissional", explica Leif Edvinsson, o guru sueco do capital intelectual, em entrevista ao EXPRESSO.


De acordo com aquele especialista, os trabalhadores do conhecimento - a emergente "classe criativa" - estão a adoptar um estilo de vida cada vez mais nómada. Segundo as últimas pesquisas conduzidas por Edvinsson, esta nova força laboral vive e trabalha num modelo de "part-time" em diversos locais do mundo, em busca do melhor ambiente para a troca de conhecimento, o qual possui dois traços fundamentais: ser propício à inspiração e possuir qualidade de vida.

"Pode ser um 'café do conhecimento' ou um bar - enfim tem que ser uma arena social, em que as pessoas sabem que se forem àquele bar, irão conhecer outros indivíduos interessantes na sua área. É um local onde estarão expostas a pensamentos interessantes, onde se irão cultivar como o solo de uma árvore", explica.

Um dos exemplos do surgimento de uma zona de conhecimento que emergiu a partir de uma rede de cafés é a bolsa de Londres, um dos centros nevrálgicos do mundo financeiro.

"A bolsa de Londres começou a nascer nos cafés da zona onde se encontra neste momento - os financeiros encontravam-se nestes locais e faziam os seus negócios. Por isso, actualmente, os cafés e bares deveriam ser usados como peças fundamentais na estratégia de criação de zonas específicas de conhecimento dentro das cidades", sugere Leif Edvinsson.

Para o guru sueco, Portugal tem todas as condições para se tornar uma plataforma turística de conhecimento, tendo como pontos-fortes tanto a qualidade de vida, como o factor "inspiração": "o país tem um bom clima, muita água, é uma zona de fronteira com os EUA e possui uma herança histórica e cultural única, com personagens como o Infante D. Henrique e Vasco da Gama, que ninguém pode copiar".

Neste plano, a cidade de Lisboa afigura-se como uma zona urbana com muito potencial para se tornar um "porto do conhecimento". O actual aeroporto é considerado por Leif Edvinsson como sendo uma vantagem competitiva neste aspecto: "um aeroporto pequeno e eficiente é importantíssimo para zonas e regiões de conhecimento, pois cria um ambiente mais acolhedor e facilita o encontro entre as pessoas. Isto não acontece com terminais grandes e despersonalizados como o de Frankfurt".

Como exemplos concretos da nova tendência do turismo do conhecimento, o guru do capital intelectual cita os exemplos das cidades de Montreal, no Canadá, e a catalã Barcelona. Na urbe canadiana, os centros comerciais estão a ser substituídos por "centros de saúde", isto é, unidades que integram hospitais, ginásios e SPA. O objectivo é atrair pessoas que se divirtam a cultivarem a sua saúde, de modo a criar competências únicas neste sector naquela cidade.

Por outro lado, Barcelona optou pela aposta no desenvolvimento da qualidade da vida como factor de atracção do conhecimento. "Não existia requisitos, nem tradição em Barcelona para que os centros mundiais de design se instalassem em Barcelona e deixassem a Califórnia. Mas também podia ter sido a cidade de Lisboa a beneficiada, se tivesse traçado uma estratégia nesse sentido", remata Leif Edvinsson.





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