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Portugal a Recrutar: quem está a criar emprego

Portugal a Recrutar: quem está a criar emprego

Depois de em 2013 terem visto a taxa de desemprego bater os 17,8%, os portugueses começam a recuperar algum otimismo. As empresas parecem estar focadas nas contratações e otimistas face à evolução dos negócios. Novas oportunidades têm estado a surgir em várias áreas, muito impulsionadas também pelo investimento de multinacionais em solo português. Mas para os especialistas em recrutamento, o país tem desafios de peso para 2016. Há que acelerar a criação de emprego e criar condições para recuperar os “cérebros” que partiram.

01.04.2016 | Por Cátia Mateus


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Portugal fechou 2015 com uma taxa de desemprego na ordem dos 12,2%, segundo as contas do Instituto Nacional de Estatística, relativas ao quarto trimestre do ano. Os dados mais recentes do Eurostat, o organismo de estatística europeu, para fevereiro deste ano, colocam a previsão do indicador de desemprego na Zona Euro em torno dos 10,3%. Os números nacionais têm representado uma progressiva melhoria em relação aos 17,8% de desemprego que Portugal chegou a registar em 2013, em plena crise económica nacional. Para 2016, as perspetivas das empresas seguem uma linha de otimismo. O Guia do Mercado Laboral divulgado já este ano pela multinacional de recrutamento Hays, comprovam-no: 74% dos 800 empregadores portugueses inquiridos no estudo pretendem contratar este ano. Mas pese embora o facto das empresas nacionais estarem mais otimistas em relação às perspetivas de contratação, e do investimento de empresas estrangeiras no país estar a conseguir alavancar a criação de novos empregos, no campo da empregabilidade, Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer até que possa falar em crescimento sustentável.

?Na semana em que arranca a segunda edição da iniciativa Portugal a Recrutar, com a primeira de quatro feiras de emprego a decorrer até 10 de abril, é destes desafios que falamos e dos sectores que estão a gerar oportunidades. Entre os especialistas em recrutamento é consensual que Portugal está a trilhar um caminho de recuperação, mas o caminho percorrido ainda não permite falar genericamente num crescimento sustentável. Há sectores onde esse caminho se fará de forma mais célere. Para Pedro Mota,diretor de negócios da Wyser Portugal, “após a saída da Troika de Portugal e a previsão de uma maior estabilidade financeira, cresceu nas empresas um sentimento de maior confiança, estimando-se que 2016 seja um ano de evolução do mercado de trabalho nacional”. O especialista realça que é expectável um maior investimento das empresas na procura de profissionais em diferentes áreas, nomeadamente nas Tecnologias de Informação, Comercial & Marketing e Indústria. De resto, o painel de empresas que desde quinta-feira estão a contratar na plataforma Portugal a Recrutar - portugalarecrutar.expressoemprego.pt - comprova esta tendência.

As previsões avançadas pela Hays no início do ano, também.?Em janeiro, Para Paula Baptista, manging director da Hays, tornava públicas as intenções de contratação das empresas portuguesas ao referir que 2016 era um ano de otimismo com “74% dos empregadores em Portugal a pretenderem recrutar, maioritariamente para dar resposta ao seu crescimento no mercado”. Segundo a líder da Hays, os comerciais, engenheiros e especialistas em Tecnologias de Informação serão os perfis mais procurados este ano”.

Crescimento sustentável?
Apesar deste otimismo, falar em crescimento sustentado do emprego nacional comporta outras exigência. “Quando analisamos as estatísticas relacionadas com o desemprego em Portugal verificamos que estão a recuar, apesar do valor se manter elevado. A pressão só aliviará quando a redução da taxa de desemprego for acompanhada pela criação sustentada de novos postos de trabalho”, realça Paula Baptista enfatizando que ainda é cedo para avaliar o verdadeiro impacto das medidas de criação de emprego propostas pelo Governo e acrescentando que “Portugal deverá continuar a investir nas exportações e na captação de investimento para que a criação de emprego seja então sustentada”. ?Amândio da Fonseca, presidente do Grupo Egor, fala em várias velocidades de recuperação do mercado. “Em algumas áreas ou sectores se atividade já existe emprego sustentado, mas infelizmente essa evolução não é generalizada”.

Segundo o especialista, “há uma significativa onda de progresso nas áreas tecnológicas, na saúde, na agricultura e no turismo, que infelizmente ainda não chega para alavancar os indicadores do desemprego a nível nacional”.?O líder da Michael Page Portugal, Álvaro Fernandéz, realça a evolução positiva que o mercado de trabalho nacional tem evidenciado nos últimos dois anos, realçando que em 2015 o país apresentou índices de investimento privado muito interessantes “e está a conseguir consolidar a sua posição como uma economia em que é seguro e rentável investir”. Em paralelo, o diretor-geral da consultora de recrutamento destaca o importante progresso que a economia nacional consolidou na sua capacidade atração e aposta em áreas de excelência, citando como exemplos os Centros de Serviços Partilhados, o Turismo e as Tecnologias de Informação que têm sido capazes de atrair empresas internacionais para Portugal, aumentando postos de trabalho e trazendo resultados interessantes para a economia do país.

Mas esta capacidade de captação do interesse estrangeiro ainda não foi suficiente para travar aquele nos últimos anos foi um flagelo tão grande para Portugal como a debilidade da sua situação económica: a fuga de talento para o estrangeiro. A generalidade dos analistas na área do recrutamento e seleção recusam analisar o fenómeno da emigração exclusivamente na ótica da “perda para o país”. Embora reconheçam que a ausência de novas oportunidades de emprego, mais flagrante em alguns sectores do que noutros, empurrou para a emigração milhares de profissionais portugueses - um fenómeno que exige atenção e cuja inversão permanece um desafio nacional - os especialistas enfatizam o erro de se olhar a internacionalização apenas pela negativa. ?Ainda que menos expressiva do que durante a crise, a fuga de talentos continua a ser uma realidade no mercado de trabalho nacional. “É verdade que com a crise perdemos conhecimento especializado para o estrangeiro, mas encontramos já situações em que os profissionais que voltaram trouxeram na bagagem know how para aplicar nas empresas nacionais”, explica Álvaro Fernandéz. ?

Afonso Carvalho, líder da Kelly Services, contesta argumentando que poucos voltam. “Só uma progressão sustentada e estrutural da criação de emprego poderá trazer de volta muitos destes profissionais. É importante que a nível socio-económico estas pessoas vejam ou consigam perspetivar um país sólido que resolve os seus problemas e cria condições fiscais, governativas e empresariais para as gerações vindouras”, explica. Também para José Miguel Leonardo, diretor-geral da Randstad, “o foco não deve estar em impedir que os profissionais partam, mas em atrai-los de volta. Em gerar valor para os profissionais”. O especialista realça que a experiência internacional deve ser vista como uma mais-valia e que é importante que Portugal aposte em tornar-se também atrativo para empresas e profissionais seja qual for a sua nacionalidade.

Onde estão as oportunidades?
A primeira de quatro feiras virtuais de emprego com a chancela Portugal a Recrutar é multissectorial. Desde o dia 31 de março e até 10 de abril que várias empresas disputam os melhores talentos, com desafios diários, na plataforma online criada pelo Expresso Emprego, especificamente para o efeito, em portugalarecrutar.expressoemprego.pt. São centenas de vagas, em vários sectores e para vários perfis, em empresas nacionais e multinacionais. Entre elas estão organizações como o grupo segurador Ocidental, a empresa de mobile maketing OLAmobile que está em pleno processo de expansão nacional, o AKI, a Lusiaves, entre muitas outras.

No Grupo Ocidental, por exemplo, Mariana Coruche, a diretora de Recursos Humanos, admite que a prioridade é identificar e atrair talento “que possa acrescentar valor à empresa”. A líder garante que a política da Ocidental não é balizar as contratações em termos de quantidade, mas “focar-se na qualidade dos talentos que atrai”. E nesta iniciativa está focada em algumas áreas hoje consideradas vitais em contextos organizacionais competitivos, como sejam especialistas em analitics, big data, business intelligence ou outras ligadas à inovação. O Grupo Ocidental integra atualmente 530 profissionais e no primeiro trimestre deste ano já contratou 20 novos elementos. Mariana Coruche prefere não avançar uma média anual para as contratações realizadas pela empresa, preferindo referir que as novas contratações são sempre “as necessárias para tornar a empresa mais competitiva”.

O mesmo sucede no grupo Lusiaves, uma referência no sector avícola. Sónia Matias, administradora da empresa com pelouro dos Recursos Humanos, confirma a intenção da empresa em recrutar 60 novos elementos para a sua equipa em 2016, cumprindo a média de contratações seguida nos últimos anos pela empresa que já soma dois mil profissionais. Na iniciativa Portugal a Recrutar, a Lusiaves terá disponíveis vagas nas áreas de gestão, marketing, engenharia industrial, engenharia alimentar e área comercial. Mas Sónia Matias não rejeitará outros perfis que não se enquadrem nestas áreas: “Valorizamos profissionais que sejam capazes não só de executar mas igualmente de pensar, desenvolver e enfrentar novos desafios. Receberemos igualmente candidaturas espontâneas para eventuais vagas que possam surgir e que sejam do interesse dos nossos candidatos”, explica.

Já Antoine Moreau, CEO da OLAmobile, coloca Portugal no centro da estratégia de expansão da empresa que fundou em 2011, no Luxemburgo. O maior escritório da empresa está mesmo sediado em Portugal (agregando 43 dos 66 profissionais da empresa) e é para a equipa nacional que a empresa está este ano a contratar 30 novos colaboradores. O foco da OLAmobile são perfis nas áreas das Vendas, Marketing e Gestão de Clientes, mas o staff da empresa é não só multicultural (12 nacionalidades diferentes) como multidisciplinar. “A filosofia da OLAmobile é que tudo se aprende, não é preciso ser altamente especializado em tecnologia ou mobile marketing para ter lugar na empresa”, realça Antoine Moreau, o CEO da empresa, que vai estar de olhos postos em perfis que encaixem nesta filosofia.

Até 2020, o AKI deverá criar mais de 673 novos postos de trabalho. Este ano serão cerca de 150 e é neles que Sandra Barranquinho, diretora de Recursos Humanos da empresa em Portugal está focada no Portugal a Recrutar. “Este ano decidimos acelerar a nossa estratégia de crescimento e até 2020 queremos duplicar o nosso parque de lojas, passando das atuais 32 para 64”. O reforço das contratações é fundamental. Cerca de 90% dos 1300 colaboradores da empresa de retalho exercem funções em loja e 10% nos serviços internos. Sandra Barranquinho dá prioridade a “profissionais dinâmicos e proativos, com habilitações literárias mínimas ao nível do 12.º ano, privilegiando a experiência comercial com atendimento direto ao cliente ou em alguma área técnica específica, como pintura, decoração, ferragens, eletricidade ou jardim”.



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