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Portugal ‘descola‘ do último lugar

02.05.2003


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Cátia Mateus e Ruben Eiras

PORTUGAL está a ganhar algum terreno no aumento dos recursos humanos qualificados em ciência e tecnologia. De acordo com os últimos dados da Comissão Europeia, em 2000, o rácio é de 0,39 doutoramentos naquelas áreas por cada 1000 habitantes, sendo este o quarto menor valor da UE. O país descolou do último lugar, deixando para trás a Holanda (0,34), a Espanha (0,33) e a Itália (0,16). A média da UE é de 0,56.


Todavia, não é garantido que estes profissionais altamente qualificados permaneçam no país, acrescentando valor à nossa economia. Segundo a análise do Anuário da Competitividade Mundial - um estudo que classifica 49 países segundo vários critérios políticos, económicos e sociais - de 1999 a 2002, Portugal já caiu cerca de 11 posições na fixação de "cérebros" em território nacional. Isto significa que embora o país aumente a produção de doutorados, estes acabam por emigrar para o estrangeiro e dificilmente regressam.

Com efeito, esta é uma tendência que se alastrou por todo o continente europeu na década de noventa do século passado. A Comissão Europeia calcula que entre 1990 e 1999, a percentagem de "capital humano perdido" disparou de 43% para 73%. O principal pólo de atracção dos profissionais altamente qualificados europeus são os EUA, devido às melhores condições de carreira e oportunidades de emprego.

A Comissão alerta que é urgente tomar medidas concretas para inverter esta situação, dado que os anos produtivos de um investigador surgem após a conclusão do seu doutoramento. Na realidade, esta dificuldade que Portugal demonstra em fixar os seus cérebros é reconhecida por José Pinto Paixão, secretário de Estado-adjunto do ministro da ciência e do ensino superior.

Diz o responsável que o fenómeno da circulação de cérebros e, consequentemente a fuga de cérebros, resulta do processo de globalização. "A ciência está cada vez mais internacional com um enorme crescendo de esquemas de cooperação e participação em acções de formação e treino de âmbito internacional", explica referindo que "existem países da UE fortemente apostados na formação de quadros com experiência internacional que possam dar suporte às actividades económicas fora das fronteiras nacionais".

Segundo José Pinto Paixão, para o progresso de um país, não basta criar condições de formação. É necessário que em paralelo sejam asseguradas condições de desenvolvimento que resultem na sustentabilidade do emprego ou ocupação, aderentes às expectativas de quem investe na formação.

Diz o secretário de Estado adjunto que "um país, mesmo pequeno como o nosso, não pode deixar de accionar os mecanismos conducentes à melhoria do respectivo desempenho económico, social e cultural, apesar das inevitáveis fugas de cérebros a que será sujeito". É importante, afiança, criar condições de fixação dessa mão-de-obra.

Não há dúvidas de que "a forte aposta na qualificação dos nossos recursos humanos deve ser acompanhada de medidas de reforço da base pública de investigação com maiores ligações ao tecido produtivo nacional (universidades, laboratórios de estado, centros tecnológicos e institutos de interface", explica.

A par deste "investimento" José Pinto Paixão considera fundamental que se criem condições objectivas de emprego e de satisfação profissional para que os talentos expatriados possam regressar ao país.

Em matéria de iniciativas concretas, o responsável frisa que "Portugal está ainda na fase de expansão de disponibilização de economias externas em ciência e tecnologia, cuja materialização reveste um considerável esforço num vasto leque de programas governamentais que vão desde o apoio à formação avançada, apoio às actividades de I&D, até à sensibilização do tecido empresarial para o aproveitamento destes programas".

Contudo, para José Pinto Paixão, a escassez de empreendedores que apostem na inovação enquanto argumento central de competitividade, tem-se assumido como um grande entrave ao sucesso destas iniciativas.



 





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