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Normas dominam ‘e-learning‘

23.05.2003


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Ruben Eiras, em Sestri Levante, Itália

Com um maior enfoque na normalização, a indústria de formação à distância começa a entrar na sua fase de maturidade.







O que são 'standards'?


A ADOPÇÃO de normas na construção de conteúdos e aplicações de "e-learning" irá dominar o desenvolvimento da indústria de formação à distância europeia no presente ano.

A tendência confirmou-se na E-learning Results Summit 2003, um evento que na semana passada reuniu durante dois dias a "nata" das mais altas entidades internacionais de normalização e certificação na área do "e-learning", realizado em Sestri Levante, uma das vilas que salpicam a Riviera italiana, a cintura costeira do norte da península banhada pelas águas calmas e cálidas do Mediterrâneo.

O certame foi organizado pela Giunti Interactive Labs, a empresa de "e-learning" da Giunti, o maior grupo editorial italiano.

Para o leitor que não está familiarizado com este tema, o recente despertar da Europa para a questão das normas (ou standards) - um conjunto específico de características que um produto ou processo deverão exibir - de "e-learning" é uma reacção à liderança americana nesta área.

No caso da formação à distância via electrónica, as normas a serem cumpridas situam-se nos domínios tecnológico e pedagógico, tanto no desenho das plataformas tecnológicas como nos conteúdos.

Actualmente, na indústria do "e-learning" existem cerca de 12 organizações que estão a trabalhar na criação de "standards" para o sector, sendo a maioria norte-americanas. Quando estes ficarem definitivamente estabelecidos, serão os critérios que pautarão a actividade de todas as pessoas envolvidas na indústria de "e-learning" (ver caixa).

Dentro das várias organizações que estão a desenvolver iniciativas de normalização as quatro maiores são a Aviation Industry CBT (Computer-Based Training) Committee (AICC), a ADLNet - Advanced Distributed Learning (ADL) Sharable Content Object Reference Model (SCORM), o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) Learning Technology Standards Committee (LTSC) e o IMS Global Learning Consortium, Inc. (IMS). Da Europa, só se destaca até ao momento o ARIADNE, um conjunto de especificações pedagógicas e multilinguísticas.

No entanto, neste momento não existe um consenso estabilizado sobre os "standards", mas o SCORM - desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA - é o conjunto de normas com maior adopção nos mercados avançados de "e-learning", como o francês ou o norte-americano.

IMS gera consenso


Todavia, começam a emergir alguns sinais de convergência entre o Velho Continente e os EUA, através da centralização no desenvolvimento das normas agregadas no IMS.

O discurso da maioria dos intervenientes na E-learning Results Summit 2003 - incluindo o do Conselho Europeu de Normalização (CEN) - aparentou indicar uma maior aceitação deste corpo de "standards".

As razões invocadas são a sua maior flexibilidade e capacidade de customização dos conteúdos às especificidades culturais, linguísticas e industriais de um sector ou país. Um factor crítico para a Europa, dada a sua diversidade linguística.

"Normalizar o 'e-learning' não significa que todos vão passar a fazer as mesmas coisas, castrando a criatividade", ressalva Edward Walker, CEO do IMS. "Significa, primeiro, que os sistemas devem ser interoperáveis, ou seja, as aplicações de 'e-learning' conseguem partilhar todos os conteúdos e localizar todos os dados", explica.

Aquele responsável acrescenta ainda que a normalização do fabrico dos conteúdos e das aplicações de formação à distância é um garante da sua qualidade, já que obrigará os produtores a incluírem a utilidade e a acessibilidade como características "sine qua non" dos seus produtos. "Caso contrário, os seus conteúdos ficarão excluídos do mercado, porque não cumprem as normas", esclarece Edward Walker.

Uma opinião que não é partilhada por Roberta Stock, presidente do Q PLC Group, uma empresa britânica de formação e que também foi oradora no certame. "Os 'standards' actuais, como o SCORM, são limitadores da criatividade e estão a espartilhar a indústria. Se continuarmos neste caminho, vamos regredir 25 anos no campo pedagógico. Por exemplo, como é que se podem aplicar normas de sequenciamento de conteúdos numa simulação, quando a interacção deste tipo de conteúdo com o formando é totalmente aleatória e caótica?", indaga aquela especialista.

Uma pergunta para a qual ainda não existe resposta. Frabicio Cardinali, CEO da Giunti Interactive Labs e membro do corpo directivo do IMS, adopta uma posição intermédia: "Para os conteúdos e aplicações onde é possível aplicar as normas, deveremos fazê-lo. Quanto aos restantes onde tal ainda não se verifica, é continuar o esforço de investigação e desenvolvimento". Uma filosofia seguida pela empresa italiana, que o EXPRESSO irá revelar na próxima semana, numa entrevista exclusiva para Portugal com Frabicio Cardinali.



O que são 'standards'?

AS INICIATIVAS de criação de 'standards' têm centrado a sua acção sobre o desenvolvimento de conteúdos e o seu processo de descoberta, a portabilidade de formação baseada em computador, a interoperabilidade do conteúdo produzido por diferentes vendedores, a sequenciação de cursos, a integração de conteúdo em sistemas de gestão da aprendizagem, metadados (descrição e indexação) dos objectos de aprendizagem e protocolos de intercâmbio de dados.

Os 'standards' são referidos como sendo cruciais para a flexibilização e crescimento da indústria de 'e-learning', cujos actores se estão a esforçar para assegurar um desenvolvimento integrado. As iniciativas de normalização focalizam-se basicamente em três aspectos:

- Portabilidade do conteúdo - quando o conteúdo é separado do sistema de fornecimento proprietário, a organização pode consolidar, organizar e conceber as suas iniciativas de 'e-learning' no sistema de gestão da aprendizagem (LMS) da sua escolha. Isto possibilita a customização dos conteúdos, logo há maior flexibilidade e menores custos operacionais para as empresas.

- Granularidade - as novas especificações suportam a metodologia do objecto de aprendizagem permitindo a inclusão de unidades de informação mais pequenas e actualizadas. Os objectos de aprendizagem adicionam o 'just-enough' à aprendizagem 'just-in-time'.

- Interoperabilidade - a aplicação de interoperabilidade começa quando diferentes aplicações de 'e-learning' conseguem partilhar conteúdo e localizar dados. Estas especificações abrem a possibilidade de trocar e aceder a conteúdos.

Actualmente, os conjuntos de normas que estão a ser adoptados pela maioria dos produtores de conteúdos são as do SCORM e do IMS. A Saf-Novabase está neste momento desenvolver um projecto de investigação que visa retratar a adopção das normas SCORM no mercado português.

A iniciativa é financiada pelo Programa Operacional de Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS) e segundo Mário Figueira, administrador da Saf-Novabase, os resultados serão divulgados no final deste ano.






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