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Inovação em "stand-by"

Um projecto que poderia revolucionar o sistema de emergência médica em Portugal continua em "banho-maria", a aguardar uma resposta governamental. Entretanto, a empresa que desenvolveu o software já vendeu o sistema a Espanha.
24.10.2008


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Marisa Antunes
Fundos comunitários que não chegam, pagamentos do Estado ou de outros clientes que se atrasam ou decisões estratégicas que são adiadas «ad eternum» são entraves burocráticos que podem fazer descambar a saúde financeira das PME (Pequenas e Médias Empresas).

Apesar de iniciativas meritórias como o programa Simplex ou a Empresa na Hora, Portugal está bem longe de ter um ambiente propício para as organizações, como, aliás, se confirmou no último relatório do Banco Mundial (ver caixa) que atribui a Portugal um pouco honroso 48º lugar entre 181 países, no seu «ranking» ‘Doing Business’”, que avalia a evolução do ambiente de negócios.

O caso de Nuno Carvalho e da sua empresa ZonAdvanced é exemplar de como as boas ideias se podem perder num emaranhado de reuniões, adiamentos e impasses burocráticos.

Proprietário de uma empresa de «know-how» tecnológico, Nuno Carvalho criou um sistema de emergência médica que poderia ajudar na triagem das chamadas para o serviço 112 e, consequentemente, na poupança de recursos mal gastos quando as ambulâncias vão em socorro de quem afinal realmente não precisa. Mas, até agora, o empresário continua a aguardar uma resposta do Ministério da Administração Interna (MAI) e do grupo de trabalho que tem nas mãos o plano de reestruturação do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica).

“O projecto 112-Vídeo assenta na possibilidade de uma pessoa entrar em contacto com o serviço 112 através de uma videochamada feita por um telemóvel da terceira geração (3G). Neste momento, já existem em Portugal cerca de três milhões de telemóveis 3G. A videochamada permite uma primeira assistência remota por parte do próprio INEM, pois o médico poderá ver em que estado se encontra a pessoa que ligou”, explica o CEO da ZonaAdvanced.

As vantagens são óbvias: “Para o cidadão, há o facto de ser assistido remotamente, seja a nível físico, seguindo as indicações do médico para o que deve ou não fazer, mas também a nível psicológico, pois mesmo em estado de choque, caso esteja a meio de um acidente, poderá receber esse acompanhamento. Do lado das instituições, a principal vantagem consiste na triagem que é possível fazer dos doentes e, consequentemente, na melhoria do serviço e na redução de custos. Muitas vezes enviam-se recursos limitados, como as ambulâncias e as VMER (Viatura Médica de Emergência), para locais onde não são necessários, não por mau serviço do INEM mas porque frequentemente as pessoas entram em pânico”.

O projecto 112-vídeo foi então apresentado às entidades estatais, as quais reconheceram os seus benefícios em várias reuniões realizadas nos últimos dois anos. Os encontros, que reuniram sempre grandes comitivas, pois juntaram pessoas dos vários serviços integrados no INEM (PSP, GNR, bombeiros, além da própria coordenação do 112), culminaram numa reunião realizada no início deste ano onde se demonstrou a intenção de dar luz-verde ao projecto.

“Em Janeiro deste ano fui contactado pela equipa do Plano Tecnológico, que acompanhou o projecto desde o início, a pedir uma nova demonstração e uma reunião com o coordenador do 112 e a sua equipa (PSP, GNR, bombeiros, etc). Voltámos a mostrar o sistema e passado um mês recebemos uma carta a dizer que estavam interessados em avançar. Respondemos de imediato e disponibilizámo-nos, mas até hoje não voltámos a receber qualquer resposta”, resume o empresário.

O ExpressoEmprego contactou Carlos Lourenço, coordenador do 112, que salientou que o “modelo de funcionamento do 112 está a ser trabalhado e reformulado, estando prevista a sua implementação, na sua primeira fase, já em Janeiro de 2009”.

“Neste processo, estamos a explorar as várias alternativas possíveis existentes nesta área. Está tudo em aberto, nada foi posto de lado e o projecto 112-Vídeo está a ser estudado”, acrescentou ainda este responsável.

Enquanto o Estado português prossegue a sua avaliação, Nuno Carvalho encetou negociações com a Telefonica, tendo já assinado uma parceria com o gigante das telecomunicações espanhol para a aplicação do projecto 112-Vídeo no sistema de emergência médica deste país. Um processo negocial e de implementação do sistema que demorou menos de seis meses.

BI EMPRESARIAL

A Zonadvanced nasceu de um projecto empreendedor, em Janeiro de 2006, sobre a emergência em vídeo, com o nome de 112 Vídeo. Foi através da Gesventure, de Francisco Banha, que Nuno Carvalho conseguiu concretizar o projecto com a angariação de capitais privados e a participação de uma sociedade de capital de risco - Inovcapital.

A empresa foi assim constituída em Julho de 2007, pelos seus sócios fundadores Nuno Carvalho e Francisco Banha.

Enquadrado no mercado como uma ASP (Application Service Provider), a Zonadvanced oferece serviços a distintos mercados, como o da publicidade, informação, entretenimento, «call-centers», entre outros.





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