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“É difícil contratar profissionais da área tecnológica”

“É difícil contratar profissionais da área tecnológica”

São mais de 50 mil, fazem parte do grupo restrito daqueles que são disputados por quem recruta - mesmo em tempo de crise - e quando acabam a licenciatura saem fora da geração 500, até porque o seu primeiro ordenado começa logo com quatro dígitos, uma raridade nos dias de hoje. Pedro Fraga, diretor da ANETIE (Associação Nacional das Empresas das Tecnologias de Informação e Eletrónica) mostra o que procuram os empregadores da área tecnológica e o que falta ainda melhorar nas competências dos profissionais dos TIC para chegarem ainda mais longe.
25.06.2010 | Por Marisa Antunes


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Como avalia o emprego tecnológico que existe em Portugal?
A ANETIE realizou um estudo nacional e concluiu que o mercado, em termos de profissionais qualificados nas chamadas hard skills - que engloba, por exemplo, as áreas de programação, sistema operativo ou na área tecnológica ligada à arquitetura – está globalmente adequado. Apurámos, no entanto, que existe um gravíssimo problema ao nível das soft skills e que se verifica não só nas áreas tecnológicas mas no geral, nas áreas ‘high-level'. As empresas recebem, com muita frequência, profissionais com défices terríveis na comunicação escrita, na comunicação empresarial, na capacidade de trabalhar em equipa, na proatividade, na demonstração de liderança… Às empresas chegam jovens saídos da universidade com dificuldades básicas de escrita…

O que está a falhar aqui?
Da nossa análise, acreditamos que isto é um problema que vem do berço, literalmente. O primeiro gestor de carreira deveria ser a família. Dou-lhe um pequeno exemplo: pode-se dizer que as profissões tecnológicas são claramente internacionalizáveis, pois uma boa parte das empresas deste setor tem negócios além-fronteiras. Mas como é possível fazer uma carreira internacional numa empresa destas, se não existe facilidade de expressão verbal em inglês? Recebem-se jovens nas empresas que logo na entrevista inicial se percebe que têm apenas o inglês básico de turista. Empresas com atividade fora de Portugal não podem contratar pessoas com o inglês básico de turista.  

Que outros pormenores deveriam ser melhorados?
Não se incute ao longo da vida dos jovens a capacidade de liderança e de empreendedorismo. Ou então acha-se erradamente que capacidade de liderança significa liderar A,B ou C, mas não é isso que se pretende. O que se quer é capacidade de coordenação, capacidade de envolver as pessoas em projetos, empreendedorismo interno, ou seja, lançar ideias dentro da própria organização. Nós, nas empresas tecnológicas, sentimos uma enorme falta de jovens com estas capacidades.

Como se pode inverter esse cenário? As universidades não poderiam colmatar algumas dessas falhas?
Em 2008, a ANETIE lançou um conjunto de medidas para o ensino básico, secundário e superior… Mas não conseguimos chegar à entidade-base que é a família. É através dos media que é preciso passar esta mensagem… Mas em relação às universidades de todo o país, por exemplo, a direcção da ANETIE tem-se desdobrado em palestras e conferências para sensibilizar professores e alunos para estas questões… Com licenciaturas de apenas três anos é impossível ir além da componente tecnológica. Mas apesar de tudo, os jovens já começam a vir mais bem preparados... E sinto que o nosso discurso tem passado… Digo sempre aos jovens: não cheguem às empresas sem mais nada para oferecer que o curso, porque curso toda a gente tem. Podem começar por algo tão simples como ler revistas especializadas. Não leiam só jornais desportivos.

Mesmo assim é uma área onde não há desemprego, certo?
As empresas tecnológicas continuam claramente a criar emprego. Há muitas empresas estáveis que conseguem crescer cá dentro e também lá fora. Neste momento, até é difícil contratar pessoas. Se formos para o interior do país, as dificuldades são ainda maiores. O emprego tecnológico é completamente litoralizado. E muito concentrado em cinco pólos: Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa.

Quantos licenciados entram, em média, no mercado de trabalho todos os anos?
Não temos esse número mas posso dizer-lhe que em Portugal na área tecnológica, pura e dura, existem mais de 50 mil pessoas a trabalhar. Programadores, analistas, consultores, na área da arquitetura… E não chegam… Num inquérito que fizemos há ano e meio, ficámos com a ideia clara de que as empresas, mesmo nos grandes centros, não conseguem encontrar pessoas. Muitos jovens, uma boa parte, com programas académicos como o Erasmus, acabam por ir lá para fora. Quem tem capacidade para sobreviver num mundo global, vai-se embora e já não volta. As empresas nacionais têm de oferecer carreiras mais aliciantes, oferecer projetos que não se centrem só em Portugal.

Quais as áreas de especialização onde há mais procura?
Uma área onde há muita procura de profissionais com formação tecnológica continua a ser a comercial, embora seja uma área lateral. Goste-se ou não, a verdade é que a área comercial ainda está muito desconsiderada em Portugal e os jovens escolhem outras opções, por isso há muita dificuldade em arranjar pessoas para projetos de consultoria comercial, a nível tecnológico. Depois há grandes faltas na área do desenvolvimento de software e também na componente hardware.

Qual é a média de valores oferecidos pelas empresas, a nível de salário ?
Tentámos apurar esses valores nos estudos que fazemos com alguma regularidade mas o intervalo de valores é muito grande… O único valor fiável que é possível apurar tem a ver com o ordenado do jovem recém-licenciado que em média, quando chega à empresa, recebe cerca de 900 euros líquidos. Em Lisboa, essa média pode chegar aos quatro dígitos.

Quantos associados tem a ANETIE e quantas empresas tecnológicas existem o país?
São cerca de 100 associados agrupados nos cinco pólos já referidos e que movimentam um bilião de euros por ano. Em termos de CAE, existem à volta de 2700 empresas mas aqui estão incluídas até as pequenas empresas de revenda de computadores.

E mesmo neste período de crise, têm sido criadas empresas ou o mercado está parado?
Muitas empresas tecnológicas estão a ser criadas e numa perspetiva internacional. Isso é muito importante. Precisamos muito de PME's mas se todas atuarem numa perspetiva local, regional ou nacional, nós não evoluímos. Felizmente, é crescente o número de empresas a trabalhar, desde o início, para o mercado global.

E quais que países, especificamente ?
Essencialmente para o Brasil, Espanha e para os PALOP, pois são mercados de maior proximidade. As organizações empresariais com produtos mais inovadores trabalham para todo o mundo, incluindo para os Estados Unidos. De há cinco ou seis anos a esta parte, notamos que tem vindo a aumentar o número de empresas a trabalhar além-fronteiras. E esse é caminho.



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