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“As empresas têm dificuldade em recrutar”

“As empresas têm dificuldade em recrutar”

O Grupo Egor celebra 25 anos de presença em Portugal. Em pleno contexto de adversidade, a marca de recrutamento liderada por Amândio da Fonseca, faturou 35 milhões de euros no ano passado e já registou no primeiro trimestre de 2011 um crescimento de 20% face a igual período do ano passado. A Egor integra nas suas bases de dados 131 mil trabalhadores, em vários setores de atividade.
26.05.2011 | Por Cátia Mateus


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Em jeito de balanço, Amândio da Fonseca mostra o que mudou no emprego nacional em 25 anos e explica porque razão, em tempo de crise e desemprego, as empresas de trabalho temporário e outsourcing têm dificuldade em conseguir candidatos para trabalhar.

O Grupo Egor assinala esta semana 25 anos de presença no mercado nacional. O que mudou na empregabilidade portuguesa?
Ao longo desta mais de duas décadas, verificaram-se alterações muito importantes no mercado de emprego. Com a adesão à Europa começou a assistir-se à emergência de setores de atividade e profissões, inexistentes na altura, que geraram um dinamismo inusitado no mercado de emprego traduzido na abertura das grandes superfícies comerciais, lançamento da banca moderna e de novos bancos, a revolução das telecomunicações, os novos figurinos da restauração coletiva, as empresas de proteção de pessoas e bens e a explosão de novas atividades ao nível dos serviços como da industria de mão de obra intensiva.

O setor do recrutamento acompanhou esta mudança?
A atividade do recrutamento foi forçada a acompanhar a evolução, através da entrada de empresas internacionais e da adoção de novos métodos de trabalho para corresponder ao afluxo de investimento estrangeiro e dar resposta à procura desenfreada de gestores e de técnicos de que havia grande escassez.

Mas esta mudança e alargamento do mercado de emprego geraram algumas vítimas entre os trabalhadores menos qualificados…
Sim. Em contrapartida à criação de muitos milhares de novos postos de trabalho o desemprego começou a afetar uma mancha crescente de trabalhadores profissionalmente impreparados, em termos de qualificação e níveis etários, para aceder aos novos tipos de funções exigidas pela modernização da economia. Após o período dos anos de euforia surgiram os primeiros indícios de uma gradual degradação da situação e o mercado de emprego iniciou um percurso descendente que se acentuou nos últimos anos e que deverá perdurar até que seja possível fazer infletir os níveis de crescimento da economia nacional.

Um cenário que o país não está a conseguir inverter. Que desafios atravessa agora Portugal em matéria de empregabilidade?
Portugal tem basicamente três desafios para resolver no que toca à empregabilidade. Deve assumir as consequências económicas e sociais da não empregabilidade de uma vasta camada da população que, por fatores etários e ausência de qualificação, perdeu a capacidade de se integrar no atual mercado de trabalho. Deve também investir sem tibiezas na formação e qualificação prática daquela faixa de desempregados que reúnem condições etárias e educacionais para se integrarem no mercado, através da criação de condições estimulantes de trabalho, para os desempregados e para os empregadores. E deve ainda apostar na pragmatização do emprego jovem através da modificação do modelo de aquisição de conhecimentos que caracteriza o ensino atual para um ensino orientado para “aprender a fazer”, sustentado por critérios de empregabilidade e motivar as organizações para participarem no ensino através de modelos de cooperação como o ensino técnico e superior.

Mas oficiais perspetivas para este ano e para os próximos não favorecem a empregabilidade. A Comissão Europeia aponta para os 13% de desempregados e diz-se que este ano registaremos a maior subida de desemprego na Europa. Há salvação para quem queira trabalhar em Portugal?
Por estranho que pareça as empresas do setor, nomeadamente no âmbito do trabalho temporário e do outsourcing, tem frequentemente dificuldade em dar resposta a pedidos de clientes e recrutar. Apesar das medidas restritivas já aplicadas, existe um certo número de desempregados que se candidatam apenas para poder provar ao IEFP que estão ativamente à procura de emprego e que depois de ponderarem as vantagens do desemprego e a situação de trabalho que lhes é proposta, recusam as oportunidades de emprego que lhe são oferecidas. Certamente que existem muitas pessoas que procuram ativamente voltar ao mercado de trabalho sem o conseguir, mas a situação de desemprego é demasiado complexa para suscitar respostas taxativas.

Acredita genuinamente que o país está no bom caminho para solucionar o seu problema de desemprego?

Acredito que as medidas impostas pelas instituições internacionais que passaram a controlar os nossos destinos, vão ter um papel decisivo na resolução dos problemas que nos afetam. Os emigrantes portugueses são tradicionalmente trabalhadores modelares nos países de acolhimento. A eventualidade de as imposições nos tornarem um novo tipo de emigrantes no nosso próprio país pode ser a solução para nos tornarmos mais produtivos e organizados e alavancar uma economia com níveis crescimento acima dos 2% de que necessitamos para inverter a curva do desemprego.

O que mais o preocupa nesta conjuntura?
Existem várias áreas de preocupação pessoal mas uma das principais é o estado de anestesia a que a sociedade portuguesa foi conduzida pelas promessas de bem estar e felicidade coletiva, alcançáveis sem esforço nem trabalho, e em relação às quais uma larga percentagem da população parece não ter ainda acordado. A segunda é a impotência da “rés pública” para atrair profissionais qualificados que assumam os destinos do país com uma postura de serviço. Como consequência, o país tem estado entregue, em muitos casos, a “aprendizes de feiticeiro” com os resultados que estão à vista.

 

Que características e competências tem de ter um trabalhador para vencer estas adversidades?

Para além de uma qualificação educacional ancorada no ensino técnico e científico, existem um conjunto de competências que são determinantes no desenho das carreiras de sucesso: a facilidade de relacionamento interpessoal, a criatividade, a liderança, o trabalho em equipa e sobretudo ao nível da motivação uma assumida predisposição para fazer acontecer as coisas e a capacidade para distinguir entre o essencial e o acessório.

Em que áreas vale a pena investir para trabalhar em Portugal?
Existem um conjunto de profissões nas quais o problema do desemprego em Portugal não se coloca. Não só porque estão inseridas em áreas de atividade em crescimento no mercado interno ou, sobretudo, no externo, mas também por a emigração de profissionais qualificados beneficiar a empregabilidade de quem fica no país. Os profissionais e especialistas nas áreas das novas tecnologias, saúde, alguns ramos de engenharia e funções técnicas de nível intermédio tendem a empregar-se com relativa facilidade.

Em 25 anos de atividade, quais foram para si as grandes conquistas que Portugal alcançou em matéria de empregabilidade?
A emergência nos últimos 20 anos de uma classe criativa que abrange um vasto número de profissionais que, trabalhando com autonomia, independência e profissionalismo, contribuem decisivamente, em todos os setores de atividade, para o desenvolvimento do país em áreas diversas e que constituem a força propulsora para o desenvolvimento coletivo através da capacidade para criar, inovar, gerar riqueza e novos conhecimentos nos respetivos setores de atividade. A crescente consciencialização de um número cada vez maior de pessoas de que a única e verdadeira segurança de emprego e o desenvolvimento da carreira, dependem em primeiro lugar de si mesmos e de uma aposta permanente no próprio desenvolvimento pessoal e profissional. E, por último, a cada vez mais significativa afirmação dos especialistas de recursos humanos na gestão estratégica das organizações e o reconhecimento da importância do seu papel no sucesso económico e social das mesmas.

Quais as grandes apostas da Egor para o futuro?
Estamos focados na consolidação das políticas de diversificação de negócios que nos permitiram evoluir de uma média empresa de recrutamento e seleção nos finais dos anos 80 para um grupo de empresas que atua hoje num leque a 360 graus das atividades de recursos humanos, empregando mais de uma centena de colaboradores especializados que operam nas áreas do recrutamento e seleção, formação e desenvolvimento de gestores, consultoria e sistemas Integrados de gestão por competências, prestação de serviços de trabalho temporário e outsourcing, incentivos motivacionais e coaching. A certificação da qualidade na qual temos vindo a investir desde há 15 anos consecutivos, em todas as nossa áreas de negócio, constitui um projeto que faz parte do nosso ADN e em relação ao qual continuamos a não ter qualquer tipo de duvidas ou hesitações. A extensão dos serviços de consultoria, formação e recrutamento que temos desenvolvido em Angola e Moçambique constituem apostas em curso e que pretendemos reforçar no âmbito de um processo de internacionalização que gostaríamos de poder alargar também a outros territórios.


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