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Angola atrai engenheiros lusos

Angola atrai engenheiros lusos

Durante décadas, os ramos tradicionais da engenharia, lideraram em Portugal as oportunidades de emprego geradas. O cenário é hoje distinto. Além das novas tecnologias estarem hoje um passo à frente das ditas áreas clássicas de especialização, áreas como engenharia civil estão a perder sucessivamente candidatos, a cada novo concurso de acesso ao ensino superior. Os dados mais recentes da Ordem dos Engenheiros apontam para que nos últimos três anos tenham saído de Portugal 4,3% dos engenheiros no ativo. Angola figura entre os principais destinos.

26.09.2014 | Por Cátia Mateus


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O que é que Angola tem para muitos engenheiros portugueses? Aquilo que Portugal, neste momento, não está a conseguir oferecer: emprego. Desde 2011, saíram de Portugal cerca de 2189 engenheiros (destes, 289 saíram já este ano) para exercer a sua atividade em destinos como Angola, Moçambique e Brasil. Fernando de Almeida Santos, presidente da Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN) aponta Angola como o destino de 25% dos engenheiros portugueses emigrados. Para o responsável, a saída de profissionais para o estrangeiro não pode ser apenas encarada de forma linear. É necessário analisá-la em duas vertentes: a que traz valor acrescentado aos profissionais e ao país e a que, pelo contrário, em nada beneficia uns ou outros. Para Fernando de Almeida Santos, preocupante é o facto dos estudantes portugueses se estarem sucessivamente a afastar da profissão o que poderá conduzir, a breve prazo, a um défice de especialistas nesta área.

“A questão da saída dos profissionais de engenharia do nosso país deve ser analisada segundo duas vertentes: os profissionais que saem já enquadrados numa empresa, seja portuguesa ou estrangeira, e que vão num contexto de internacionalização que é benéfico para a engenharia portuguesa – uma realidade que faz todo o sentido no contexto de globalização em que vivemos e que valoriza os nossos profissionais e o seu conhecimento – e os engenheiros que percorrem precisamente o caminho inverso, e que vão muitas vezes contratados de forma individual sem o enquadramento de uma empresa e, portanto, fora do contexto de internacionalização”, explica o presidente da OERN acrescentando que “esta opção não deixa de ser prestigiante para o ensino da engenharia portuguesa, mas não traz valor acrescentado para Portugal, já que o país investiu na formação de um profissional e não tira proveito desse investimento”.

Para contornar esta perda de “laços” com os engenheiros portugueses, a Ordem dos Engenheiros tem procurado estabelecer parcerias com as suas congéneres nos principais países de destino, com quem estabelecido acordos bilaterais com vista à benéfica integração dos profissionais portugueses. Angola, enquanto principal destino da engenharia lusa, é disso um exemplo. José Dias, o bastonário da Ordem dos Engenheiros de Angola, que na passada semana esteve em Portugal a convite da OERN para uma palestra sobre as oportunidades de trabalho para engenheiros portugueses naquele país, confirma a atratividade de Angola aos olhos dos portugueses e as necessidades que o país tem de perfis especializados em diversos ramos da engenharia. “Neste momento, a Ordem dos Engenheiros de Angola tem registo de 611 engenheiros portugueses a trabalhar no país”, explica José Dias. O bastonário reconhece que o país tem carência de engenheiros em todas as áreas, mas que o maior défice é nas áreas relacionadas com o sector petrolífero, a construção civil e o sector das energias. “A área da engenharia civil é, sem dúvida aquela que regista maior potencial no mercado angolano”, esclarece. Um cenário que contrasta com Portugal, onde as oportunidades de emprego têm decaído e o número de possíveis canditatos a engenheiros civis também.

Para Fernando de Almeida Santos, a relação entre ambas as parcelas desta equação não é assim tão linear: “muito do que se tem verificado ao nível da diminuição de candidatos aos cursos de engenharia civil, deve-se à massificação dos cursos e à consequente banalização do termo engenheiro”. O presidente da OERN reconhece que a Ordem tem sido confrontada com “uma diminuição do prestígios destes profissionais e, num sentido mais abrangente, da própria classe”. Esta é para Fernando de Almeida Santos uma das razões que tem conduzido à sucessiva diminuição da procura por parte dos candidatos. O líder não é, naturalmente, alheio à questão conjuntural, mas mostra-se reticente em atribuir-lhes responsabilidades nestes resultados. “Existe a questão da conjuntura económica e da diminuição da empregabilidade, mas não acredito que esta seja a grande justificação do problema. Se esta fosse a grande causa do decréscimo da procura, o mesmo aconteceria com a arquitetura e não se tem verificado”, enfatiza.

À margem de quaisquer razões, Fernando de Almeida Santos, reconhece o potencial do mercado internacional e o valor que os engenheiros portugueses têm vindo a assumir de forma crescente em países como  Moçambique, Brasil e algumas geografias do norte da Europa, como a Noruega ou a Alemanha, onde muitos engenheiros portugueses têm encontrado boas oportunidades de carreira. Angola é, como enfatiza, o destino mais aliciante. “É um misto de necessidade e oportunidade. Angola necessita de experiência e conhecimento para conjugar com a sua engenharia e, neste contexto, pela língua, pela afinidade e por fatores de mercado, Portugal – seja através das suas empresas ou de empresas angolanas – surge como uma forte oportunidade de crescimento e exercício profissional dos nossos engenheiros”, explica.

O presidente da OERN enfatiza ainda o papel da engenharia portuguesa no contributo para o crescimento de Angola uma vez que “permite ao país ter a capacidade técnica para fazer face ao investimento necessário em infraestruturas”. São de resto estes os profissionais portugueses, hoje em missão internacional, que a breve prazo estarão de regresso ao mercado nacional. É que para Fernando de Almeida Santos, “está enganado quem pensa que em Portugal está tudo feito”. 



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