Notícias

«‘Outplacement‘ evita conflitos laborais»

28.03.2003


  PARTILHAR






Vítor Matos

QUANDO uma recessão económica se anuncia, as empresas fazem "dieta" para eliminar "gorduras" nos recursos humanos. É em fases como a actual que os processos de "downsizing" atiram até os profissionais mais qualificados para o desemprego. No entanto, há empresas a dar sinais contraditórios, despedindo de um lado para contratar do outro.







Procurar trabalho é um emprego


China Gorman, CEO da multinacional de "outplacement" Lee Hecht Harrison (LHH), esteve em Lisboa a dar pistas para lidar com este paradoxo: "Em todo o mundo é habitual ver títulos nos jornais a dizerem que uma empresa vai despedir mil empregados, quando nas mesmas páginas surgem anúncios dessa companhia para contratar profissionais", explicou Gorman numa conversa com o EXPRESSO.

É uma situação contraditória, que a executiva norte-americana entende poder ser atenuada com programas de "outplacement" - em que uma empresa especializada, como a LHH, é contratada para recolocar os colaboradores dispensados.

Embora seja uma prática mais desenvolvida no mundo anglo-saxónico, a LHH (que também faz gestão de carreiras, "coaching" e desenvolvimento de liderança) está presente em Portugal há pouco mais de um ano, como filial do grupo Addeco.

Segundo China Gorman, a situação de empresas que despedem pessoas para contratarem outras deve ser encarada como normal. "Acontece em organizações que precisam de mobilidade. Quando a tecnologia influencia um processo de fabrico, pode ser necessário reduzir uma parte da força de trabalho, mas ao mesmo tempo ser preciso investir noutras áreas de negócios e contratar pessoas com capacidades mais apropriadas".

Se a situação é difícil para os que são despedidos, também não é fácil para os trabalhadores que ficam na empresa e percebem que podem ir para a rua a qualquer momento. A sensação de instabilidade e de falta de recompensa pelo esforço pode afectar a motivação, dedicação e produtividade dos que não são dispensados.

Assim, além de ajudarem os colaboradores despedidos a regressar ao activo, China Gorman defende que, contratando serviços de "outplacement", as empresas dão um sinal positivo às pessoas que permanecem na organização: "Passam a saber que se a empresa tiver de tomar uma decisão difícil, não o fará sem cuidar delas, dando-lhes suporte para encontrarem uma nova carreira".

As estatísticas de 2002 do Instituto do Emprego e Formação Profissional mostram que o número de portugueses desempregados com cargos de direcção aumentou pelo menos 16% durante o ano. Em Outubro passado havia quase cinco mil antigos directores inscritos no Fundo de Desemprego (mais 800 do que no ano anterior), e quase metade estava nessa situação há pelo menos um ano.

Apesar do quadro ser negro, China Gorman garante que se as empresas onde trabalhavam estes executivos tivessem negociado um pacote de "outplacement", eles "voltariam mais depressa ao trabalho".

Contrariando outras fontes do mercado português que dizem preparar os profissionais desempregados para passarem seis meses a um ano em fase de transição, a CEO da LHH fala em apenas "três a quatro meses". E justifica: "As nossas estatísticas em todo o mundo mostram que as pessoas que trabalham connosco voltam ao mercado com maior rapidez. A maioria não monta negócios próprios, não volta à escola, nem se reforma antecipadamente: 65% passam a ganhar mais dinheiro do que no emprego anterior".

Os serviços de "outplacement" são sempre pagos pela empresa que procede ao despedimento e nunca pelo visado. No entanto, em Portugal há companhias que descontam o valor do programa de "outplacement" no total do pacote financeiro oferecido para o colaborador se ir embora.

Pelo contrário, Yves Turquin, director da LHH em Portugal, recomenda que o modo mais correcto de proceder não é esse. As empresas devem, por norma, oferecer o "outplacement" sem descontar esse valor na indemnização do empregado. "É uma boa maneira de evitar conflitos laborais e facilitar as negociações. Não é perder dinheiro".

China Gorman acrescenta: "O 'outplacement' também melhora a imagem das empresas na comunidade, porque ficam conhecidas por terem boas práticas éticas e isso afecta positivamente a marca", conclui.






Procurar trabalho é um emprego

O DESPEDIMENTO e o desemprego podem desencadear uma das piores fases por que alguém passa na vida. A maioria dos visados, sejam operários ou executivos de topo, ficam muitas vezes desorientados sobre o que fazer.

Receiam o futuro: se um operário tem nas baixas qualificações o seu maior problema, um gestor teme, acima de tudo, que o estigma do desemprego afecte a sua imagem. Para quem tenha uma elevada auto-estima, é um momento onde pode começar a desenhar-se uma depressão...

"Acontecem duas coisas em simultâneo", diz China Gorman. "Primeiro, essas pessoas devem prestar atenção ao lado emocional de serem rejeitados. Ninguém gosta de o ser, seja qual for o nível que ocupe na empresa. Isso magoa. Em segundo lugar", acrescenta, através do "outplacement", procura-se levar essas pessoas a perceberem que "procurar trabalho é um trabalho". Ou seja, os profissionais devem encarar a fase transição como se estivessem numa empresa, mas desta vez a marca que vendem é o seu próprio nome. "Não é, na essência, um problema psicológico ou emocional", sustenta China Gorman.

"A nossa metodologia passa por criar um processo de negócio com modelos e objectivos a alcançar. Há treino envolvido, consultoria de peritos, e ferramentas tecnológicas para reunir informação e disseminá-la. Temos uma estrutura forte para substituir a que eles perderam no seu trabalho"
, explica.

 


 





DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS