A Culpa foi do Telefone...
Por Pedro Saraiva, Engenheiro de Telecomunicações
Chamo-me Pedro Saraiva mas em pequeno chamavam-me
Engenhocas, porque andava sempre com um canivete suiço e mais alguns
apetrechos a inventar coisas.
O facto é que esta vocação me estava no sangue. Desde
pequeno adorava abrir electrodomésticos e ver como eram lá
dentro.
Claro que nessas minhas investidas consegui estragar um ferro de engomar,
uma batedeira eléctrica e já ia a caminho da ventoinha quando
fui detido pelo meu pai.
Ainda apanhei uns bons açoites por causa destas brincadeiras, mas
valeram a pena, até pelo reconhecimento que tive dos meus pais
aos 11 anos, idade em que pela primeira vez consegui consertar alguma
coisa, um telefone.
Os meus pais acharam que a fase destrutiva tinha terminado e que como
depois da tempestade vem a bonança, a partir dai teriam sempre
alguém para consertar os electrodomésticos lá de
casa, mas enganaram-se!... ainda consegui estragar muuuito mais coisas,
posso no entanto dizer que me orgulho de ter arranjado algumas outras.
Como o meu primeiro grande sucesso foi o telefone sem fios da minha avó,
decidi que no futuro queria ser qualquer coisa dentro da área das
telecomunicações, e assim foi.
Na altura de entrar para a faculdade optei pelo curso de engenheiro de
telecomunicações.
Também na faculdade arranjei uma alcunha, chamavam-me o professor
pardal, e aproveitava as aulas de laboratório para continuar a
estragar umas coisinhas.
No final do meu curso, quando comecei à procura de emprego já
existia a concorrência dado que o monopólio da PT tinha acabado,
o que foi benéfico para mim.
Tive a sorte de arranjar logo emprego numa das grandes empresas de telecomunicações.
Em dois anos ascendi três postos dentro da empresa, tudo por causa
de uma ideia que tive e que ao que parece deve ter sido genial.
Depois mudei para a concorrência, não só por uma questão
de dinheiro mas também porque já sentia a falta de novos
desafios.
Actualmente trabalho nos telemóveis de terceira geração,
os chamados "smartphones" e "communicators" com acesso
à internet.
Estou cheio de novas ideias até mesmo no que respeita aos PDAs
(Personal Digital Assistants).
Mas o que me entusiasma mesmo é ler sobre o frigorifico inteligente
que realiza o inventário dos ingredientes em falta, para ter o
necessário para a realização de determinada receita.
Depois de pensar sobre isto, decidi fazer algo parecido.
Então, já que estraguei o ferro de engomar à minha
mãe, vou tentar criar um que deslize por comando de voz, um aparelho
que daria às donas de casa um alivio monumental. No entanto, tenho
que ver bem quais as ordens a dar, porque passar a ferro é muito
na base do para a direita, para a esquerda, para cima e para baixo e insiste.
As donas de casa ficariam com os braços mais descansados mas roucas
ao fim de algum tempo.
Falando a sério, se esta minha invenção for para
a frente terá de ser bastante aperfeiçoada. Enquanto experimento
acho que vou estragar mais alguns ferros, mas é uma causa "a
bem da nação", pelo menos no que toca a quem trabalha
em casa.
A minha paixão são os telefones e os electrodomésticos,
objectos que considero importantíssimos no nosso quotidiano, por
isso vou fazer o possível para que eles possam melhorar a qualidade
de vida de muitos milhares de pessoas.