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Gestão pouco feminina

30.04.2004


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Ruben Eiras

AS MULHERES continuam afastadas dos cargos de decisão tanto em Portugal como ao nível da União Europeia. De acordo com os últimos dados divulgados pela Comissão Europeia, o sexo feminino só ocupa, em média, 5% dos cargos de topo no nosso país e não mais do que 10% no espaço europeu.


Com efeito, no total de profissionais que trabalham como gestores de topo nas empresas públicas e no sector do serviços, só 3% são mulheres em Portugal e a UE fica-se pelos 2%.

Quanto aos cargos de decisão política, a Europa e Portugal contam com 6% e 7%, respectivamente, de mulheres que exerceram funções de ministras e secretárias de Estado.

Mulheres continuam afastadas dos cargos de topo

Para Maria das Dores Guerreiro, socióloga e investigadora no ISCTE, estes indicadores são prova de que "existe uma forte segregação das mulheres em lugares de topo", em grande parte devido ao facto de a sua entrada em posições qualificadas no mercado de trabalho ser recente.

Uma situação corroborada pelo próprio Governo. De acordo com a resposta enviada por escrito pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego (CITE) ao EXPRESSO, "o significativo acréscimo registado, nos últimos anos, no acesso das mulheres à qualificação e, em particular, a graus de ensino superior, não encontra ainda reflexo, em termos equivalentes, na sua posição relativa face aos homens no mercado de trabalho, no que respeita, por exemplo, à participação em cargos de gestão".

Além disso, a investigadora do ISCTE aponta que, embora Portugal se situe acima da média da UE, as variações são "insignificantes". Uma perspectiva perfilhada por Manuel Meirinho, docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e coordenador de um estudo sobre a participação política das mulheres portuguesas que está a ser realizado por aquela universidade.

Não obstante o panorama de sub-representação das mulheres em funções de decisão, aquele investigador salienta que as tendências confirmam "o peso crescente da representação feminina nas estruturas electivas" - como, por exemplo, os parlamentos - "e as não electivas, independentemente do seu poder de decisão efectivo".

Um dos resultados mais visíveis desta nova vaga de influência das mulheres na política é a feminização das agendas políticas. "Hoje é possível que os problemas, preocupações e valores das mulheres sejam discutidos, debatidos e legislados mais abertamente e mais frequentemente", observa Maria da Conceição Teixeira, docente no ISCSP e coordenadora-adjunta daquele estudo.

Para esta especialista, o reforço da presença das mulheres na política fez com que a agenda feminista chegasse à esfera pública gerando um impacto significativo na sociedade. "As questões da legalização do aborto e da igualdade salarial são disso prova", exemplifica.

Por outro lado, os dados da Comissão Europeia mostram que o sexo feminino encontra-se melhor representado na classe profissional dos altos funcionários públicos: 14% em Portugal e 19% na União Europeia.

Maria das Dores Guerreiro explica a maior representatividade das mulheres neste segmento profissional, devido às condições mais propícias para desenvolverem uma carreira na administração pública. "Como as subidas se fazem por concurso público, nos quais contam muito as qualificações, as mulheres conseguiram subir nos escalões profissionais, porque possuem um maior nível de escolaridade do que os homens", explica.

O grande fosso laboral entre os sexos em Portugal situa-se no segmento profissional dos juízes do Supremo Tribunal - enquanto que na UE já existem 28% de mulheres com estas responsabilidades, em Portugal o sexo feminino é inexistente neste cargo.

Segundo a CITE, isto deve-se ao facto de o acesso à magistratura ter estado vedado às mulheres antes de 1974. "O mesmo acontece, aliás, a nível da carreira diplomática, pelas mesmas razões", acrescenta o comunicado daquele organismo.

Para inverter a segregação das mulheres nos cargos de decisão, Maria das Dores Guerreiro defende que o fomento de uma mentalidade que promova a igualdade de oportunidades para ambos os sexos. Isto passa por uma maior repartição das tarefas e das responsabilidades familiares entre o casal.

"É a única forma de conseguir libertar a mulher do peso excessivo que carrega na vida familiar e obter mais tempo para a sua vida profissional", remata.





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