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Economia do mar precisa de 160 mil trabalhadores

Economia do mar precisa de 160 mil trabalhadores

O sector marítimo terá de duplicar ?o seu número de profissionais em 15 anos. ?E esse não é o único desafio.

12.02.2018 | Por Cátia Mateus


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Nos próximos 15 anos, o cluster do mar terá de duplicar o seu número de profissionais em Portugal, para fazer face ao crescimento do sector e para que o país possa posicionar-se competitivamente, numa indústria que é apontada como estratégica pelo Governo. Serão necessários pelo menos 160 mil profissionais até 2033 em Portugal, segundo as contas de Miguel Marques, sócio da consultora PwC que realiza anualmente o barómetro da economia do mar, LEME. Contratar estes profissionais poderá não ser fácil. O sector está em profunda mudança. A robotização deverá eliminar alguns postos de trabalho e criar novos, com fortes necessidades de qualificação, mas as profissões ligadas ao mar continuam a encontrar muita resistência entre os profissionais, sobretudo os mais jovens, e permanecem socialmente pouco valorizadas. O sector está cada vez mais envelhecido e para inverter esta tendência é preciso, segundo os especialistas, começar já a formar as gerações futuras e a dignificar estas carreiras.
 
Cerca de 160 mil profissionais trabalham atualmente na indústria do mar e nos vários subsectores: pesca, aquacultura e indústria do pescado; construção e manutenção/reparação naval; transportes marítimos, portos, logística e expedição; ação do Estado no mar; entretenimento, desporto, turismo e cultura e seguros marítimos e financiamento marítimo. Alimentar, Turismo, Transportes e Logística são as fileiras mais determinantes deste sector em termos de negócio, numa altura em que o peso do mar na economia nacional é de 3,1%, gerando mais de 4,6 mil milhões de euros de volume de negócio anual. Miguel Marques argumenta que é possível fazer “mais e melhor”, se aumentar o investimento no sector, reduzir a burocracia, forem renovadas frotas e realizado um investimento de fundo ao nível da captação de capital humano qualificado.
 
E no campo dos recursos humanos, os próximos anos serão mesmo decisivos. Apesar de, nos últimos anos, o capital humano associado ao sector ter, progressivamente, vindo a dar sinais de evolução em número e em competências, o especialista da PwC não tem dúvidas de que há ainda muito a fazer neste campo. “Para acelerar o desenvolvimento da economia do mar precisamos de duas coisas: pessoas bem treinadas e pessoas bem equipadas”, explica acrescentando que esse trabalho tem de começar a ser feito já, tanto mais que a revolução digital deverá operar grandes mudanças no sector e a um ritmo acelerado.
 
Pese embora o facto de, no último ano, o número de alunos colocados em licenciaturas ligadas ao mar no ensino superior nacional, ter aumentado cerca de 13%, Miguel Marques relembra que o pessoal militar ao serviço da marinha não tem parado de descer nos últimos anos e reconhece que contratar para funções “em mar” é sempre muito difícil. “São carreiras duras, com condições de trabalho muito específicas, para as quais é muito difícil contratar e onde a faixa etária dos profissionais tem vindo a subir progressivamente.”
 
Carreiras mais atrativas
O estudo da consultora defende a necessidade de dinamizar os diversos subsectores da economia do mar, como forma de mudar a imagem que os jovens têm das suas carreiras, apostando na crescente e progressiva qualificação do seu capital humano e no apoio à investigação, inovação e empreendedorismo na área. Muito do que comporta esta estratégia já está em marcha, mas é preciso acelerar e intensificar a concretização destas prioridades, realça o especialista.
 
Rui Azevedo, secretário-geral do Fórum Oceano (Associação de Economia do Mar), confessa alguma dificuldade em quantificar o número exato de profissionais que serão necessários aos negócios do mar nos próximos anos, admitindo que o número possa até vir a ser superior aos 160 mil avançados por Miguel Marques. O que tem como certo é que “muitas das carreiras que hoje conhecemos não existirão nessa altura. Existirão outras para as quais temos de começar já a qualificar profissionais, sob pena de perdermos a rota nesta matéria”, explica.
 
“Não podemos dissociar a questão dos recursos humanos da economia do mar da rapidez com que está a evoluir a economia digital e que vai criar necessidades muito específicas às várias atividades deste sector”, explica o secretário-geral da Fórum Oceano. Rui Azevedo avança um cenário em que funções menos qualificadas encontrarão substituto em soluções de inteligência artificial e novos contextos de negócio que irão impor maiores necessidades de competências e qualificação aos profissionais. “Estamos no início de uma revolução cujo impacto ainda é difícil prever, mas é de algum modo realista referir que tudo o que é mão de obra intensiva tenderá a desaparecer”, explica. A introdução do mercado dos navios autónomos é apontada pelo especialista como um dos motores de mudança no sector, pelos impactos ambientais que gera e pelas alterações que implicará, por exemplo a nível portuário e de logística. 
 
A qualificação será, segundo Rui Azevedo, a grande âncora da revolução que atravessa a indústria do mar. O secretário-geral do Fórum Oceano representa Portugal no grupo de trabalho da Comissão Europeia para as questões da qualificação e capital humano na economia do mar. Da última reunião, já este ano, resultou um conjunto de propostas totalmente orientadas para atrair para o sector um número crescente de jovens. “O grande objetivo é mostrar que a economia do mar tem carreiras atrativas e financeiramente competitivas”, explica reforçando que há que começar a antecipar a formação dos profissionais do futuro, “seja no ensino superior ou no profissional”. 
 
O grupo de trabalho quer captar jovens talentos para a economia do mar e qualificar os profissionais existentes atuando em três eixos fundamentais: formação ao longo da vida, promoção da mobilidade e investimento na literacia dos oceanos (para informar a comunidade sobre as oportunidades de carreira no sector). Uma das medidas em cima da mesa é a criação de Erasmus para a economia do mar. Um programa que possa levar os jovens a experiências de estudo e trabalho noutras geografias, capazes de dar a conhecer a dimensão das oportunidades do sector.
 
Outra das vertentes que Rui Azevedo destaca como determinante nesta área, e que tem estado a ganhar particular dinâmica em Portugal, é o empreendedorismo e inovação ligados à indústria do mar. Nos últimos nos, várias startups têm surgido em Portugal (ver caixa) e alguns projetos de incentivo a criação de negócios do mar têm chamado a atenção de organismos internacionais (ver texto ao lado). Mas também aqui o caminho ainda é longo e há que enfrentar entraves de financiamento. O Executivo anunciou recentemente um investimento de €600 milhões para financiar projetos na economia do mar até ao final da legislatura, mas para quem está no terreno faltam business angels dedicados à industria do mar, mais apoio na incubação de projetos, capital de risco capaz de entender as especificidades deste mercado e acesso ao crédito mais facilitado.
 
Startups em expansão    
Aqualine
Promovida pela empresa PEN Wave, é uma das grandes inovações em desenvolvimento em Portugal na área da aquacultura. O projeto venceu a primeira edição do prémio MAREINOV-Montepio, uma iniciativa de apoio ao empreendedorismo do consórcio Mare Startup, em parceria com a instituição bancária. A Aqualine produz de forma inovadora microalgas e copépodes para o sector da aquicultura e a empresa que o promove, a PEN Wave, especializou-se no fornecimento de alimento exógeno para os primeiros estádios de espécies de cultivo mais complexo. 
 
Fish’n’Greens
Encontra-se em fase de lançamento e assume-se como um projeto integrado de aquaponia urbana, baseado na produção piscícola e de vegetais em simbiose. Ou seja, na combinação entre aquicultura e hidroponia (técnica de cultivar plantas sem solo), reforçando os efeitos positivos de cada técnica e anulando os negativos, nomeadamente os resíduos e a incorporação de fertilizantes sintéticos, pesticidas ou medicamentos. A técnica permite poupanças de água de 90% e reduz o consumo de rações com proteína animal, contribuindo para aliviar a pressão sobre os stocks de peixe selvagem no oceano.
 
BioMimetx
A startup portuguesa desenvolveu uma solução antifouling de origem natural para ser aplicada em tintas para estruturas marinhas submersas. Por outras palavras, criou um produto biotecnológico que permite remover incrustantes dos cascos dos navios. O produto ultrapassa as limitações tradicionais dos compostos que evitam a adesão de organismos marinhos e a manipulação perigosa de compostos anti-incrustantes clássicos, a um custo mais baixo. Soma várias rondas de investimento e reúne investidores norte-americanos. 


Financiamento limita inovação no mar
Foi lançada em 2016 por iniciativa conjunta da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da Universidade Católica Portuguesa, do Fórum Empresarial da Economia do Mar (atual Fórum Oceano) e da Sociedade de Avaliação Estratégica e Risco (SaeR), com o objetivo de apoiar o empreendedorismo e inovação empresarial dedicada ao Mar. Desde a sua criação, o consórcio Mare Startup já apoiou sete projetos ligados à economia do mar, viabilizando a criação de 20 postos de trabalho. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) destacou o projeto nacional e o seu modelo como um estudo de caso e um exemplo de sucesso. Mas por cá, a Mare Startup continua a lutar com o que José Guerreiro, coordenador da plataforma, classifica de “óbvia lacuna nos mecanismos de apoio ao empreendedorismo do mar”.
 
Apoia o desenvolvimento de negócios naquele que é apontado como um dos sectores vitais da economia nacional, com recurso a financiamento próprio das instituições aderentes, tanto ao nível de recursos humanos como de infraestruturas. A Mare Startup foi criada a partir da constatação de que “apesar das políticas públicas pretenderem dinamizar a Economia do Mar”, não existiam mecanismos e infraestruturas de apoio ao empreendedorismo e inovação empresarial na indústria marítima.
 
Investimento interno
Pouco mudou desde então. “É objetivo e proposta pública da Mare Startup ajudar a promover uma rede de iniciativas e incubadoras ligadas ao mar, que poderia e deveria, ser apoiada até a nível dos programas operacionais e regionais, MAR 2020 ou Fundo Azul”, mas o seu financiamento continuar a ser assegurando em exclusivo pelos parceiros, explica o coordenador.

A Mare Startup baseia o seu modelo de funcionamento no mecanismo de apoio às iniciativas de startups surgidas em contexto universitário, ou projetos de inovação empresarial, a quem concede uma bolsa de horas gratuita assegurada pelos seus parceiros, para apoio ao desenvolvimento de plano de negócios, candidaturas a programas de financiamento, apoio jurídico à constituição de empresa, licenciamentos, propriedade intelectual/industrial apoio técnico-científico, através dos Centros de Investimento Mare e da Universidade Católica, com mais de 600 especialistas.

Em 2017, o consórcio lançou a sua primeira chamada pública para apoio a projetos, apoiando sete startups. Uma segunda chamada está já agendada para abril deste ano, esperando-se que a plataforma que está a inspirar a OCDE pela sua ação direcionada para os negócios do mar, possa apoiar igual número de projetos. José Guerreiro relembra que a dinamização da iniciativa empresarial é determinante para o futuro do sector e destaca a dificuldade de financiamento como um entrave que é necessário ultrapassar.


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