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Altran ultrapassa os 2000 trabalhadores em Portugal

Altran ultrapassa os 2000 trabalhadores em Portugal

Depois de ter recrutado 400 profissionais em 2017, este ano a tecnológica contrata mais 200.

12.02.2018 | Por Joana Madeira Pereira


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A fasquia foi colocada alta: o objetivo, até ao final do ano, será contratar mais 200 pessoas. A que se juntam os 400 profissionais que, só no ano passado, entraram para a Altran em Portugal. Se tudo correr bem, a empresa de engenharia e software irá terminar 2018 com uma força de trabalho de mais de 2000 trabalhadores, muitos deles engenheiros e programadores. “A nossa prioridade é consolidar a nossa posição em sectores importantes, no mercado interno, como as telecomunicações, os serviços financeiros, a administração pública ou o sector da saúde”, aponta Célia Reis, diretora-geral da operação em Portugal.

As novas contratações têm reforçado, sobretudo, os centros de competência instalados em Vila Nova de Gaia (que abriu portas em 2015) e no Fundão, onde trabalham, respetivamente, 400 e 300 pessoas. A Altran, de origem francesa, foi uma das primeiras multinacionais a escolher Portugal para estabelecer a sua plataforma de serviços partilhados, numa lógica de nearshore (ou seja, prestação de serviços para mercados de proximidade) — e logo no interior do país, Fundão (Castelo Branco), em plena crise, no ano de 2013.

A comemorar 20 anos em Portugal, a empresa está presente também em Lisboa, onde se localiza o seu maior escritório. A grande fatia dos trabalhadores da empresa, perto de 1050 pessoas, trabalha no desenvolvimento de software e sistemas de informação para o mercado nacional. Cerca de 700 trabalham para projetos internacionais e as restantes dedicam-se a tarefas administrativas.

Para sustentar este crescimento, num mercado em forte concorrência pelos talentos e competências nas tecnologias de informação e comunicação (TIC), sobretudo de programação, a tecnológica tem investido na formação e reconversão de profissionais dentro de ‘casa’ e também na contratação de profissionais em mercados de maior dimensão — destacando-se o Brasil, onde existe “uma bolsa grande de profissionais seniores com boas competências, com afinidades culturais e apetência para falar bastante bem inglês”, explica a responsável.

Atualmente, perto de 10% da equipa da Altran em Portugal e de nacionalidade estrangeira, mas a tendência é para aumentar. Afinal, a ‘guerra’ pelas competências ainda agora começou. Numa altura em que mais multinacionais instalam em Portugal os seus centros de serviços partilhados — veja-se a Google, que anunciou a criação de 535 postos de trabalho já este ano, ou a possibilidade de a Amazon instalar um centro de cloud (nuvem) no Porto, a pressão para o recrutamento é cada vez maior: tal como o Expresso noticiou na edição passada, em apenas um ano, este sector exportador empregou mais 10 mil trabalhadores — no total, dá trabalho a mais de 36 mil pessoas.

A opção da Altran pela deslocalização do negócio para o concelho de Castelo Branco, prendeu-se precisamente com a luta feroz pelos recursos humanos: “Quando decidimos criar um centro de produção tomámos uma decisão central: não queríamos estar no centro da grandes cidades, porque não queríamos sofrer a concorrência dos recursos. E, ao mesmo tempo, queríamos estar perto de uma universidade, onde pudéssemos ir buscar esses recursos e transformar competências. Ali, temos a Universidade da Beira Interior”, recorda Célia Reis. Desde que lançou o negócio de nearshore em Portugal, a Altran Portugal já investiu cerca de €19,5 milhões. 

A escassez de talento 
“Atualmente, é tão difícil recrutar para o escritório em Lisboa como para o Fundão. Estamos a falar de um mercado de pleno emprego, que logo absorve os profissionais que estão a sair dos cursos relacionados com as TIC. No caso dos seniores, com mais anos de trabalho, os salários estão a subir, uma vez que só os conseguimos atrair com mais benefícios. Acabam por rodar entre as várias empresas”, sintetiza.

Para colmatar as falhas, a empresa tem promovido parcerias com as universidades, de forma a captar talento acabado de formar e a reatualizar algumas das competências dos trabalhadores mais seniores. E tem realizado internamente alguns programas formativos: “Em 2017, fizemos oito academias internas, cada uma com 20 pessoas cada, em média, com o objetivo da reconversão profissional de profissionais vindo de outras áreas.”

A luta pelas competências é feroz e, à medida que vão chegando mais concorrentes ao mercado, “a oferta do ensino português é manifestamente reduzida”. Se a falta de competências não for colmatada, “será um risco para este plano que Portugal tem de se assumir como uma plataforma tecnológica”. É preciso acelerar a produção de competências. E em volume. “Para nós, um politécnico produzir mais 20 ou mais 30 profissionais por ano, é uma gota de água que desaparece neste grande oceano. Não tem qualquer efeito. Tem de haver, por parte do sistema de ensino superior português, uma produção que tenha volume. E, para isso acontecer e ter impacto no mercado, é preciso que as empresas se associem, comuniquem entre elas e estabeleçam as suas necessidades, para se chegar a um número. Precisamos de 300 pessoas? De 500? Muito bem, então, comprometemo-nos, de acordo assinado, a empregar os 300 ou 500 profissionais que saiam de um programa de formação”, defende Célia Reis.

Este processo, admite, está a começar, mas tem de acelerar. “Entre o momento em que se decide, o tempo que leva a desenvolver conteúdos e o tempo de formação, estamos a falar de um ano — isto se estivermos a ser otimistas”, aponta. E, no caso de jovens saídos das universidades sem competências diretamente ligadas à programação, ou no caso de profissionais seniores que queiram reconverter as suas carreiras para este mundo da tecnologia, é preciso esperar quatro a seis meses, a que se soma um período de imersão em contexto de trabalho. No total, pelo menos nove meses de espera — “o que é muito bom, face a um ciclo que costuma de ser de três anos”.

Por outro lado, é “essencial” recuperar o talento formado em Portugal e que saiu do país nos anos mais difíceis da crise. “É preciso incentivá-los a saírem da inércia em que estão. Naturalmente, constituíram família, assumiram compromissos, mas temos de mostrar que somos um mercado competitivo. São profissionais seniores, com cerca de seis anos de carreira. Estão no ponto”, afirma.

Mas porque há poucos portugueses para tanta procura é preciso “estimular uma política pública ativa de importação de competências”, comunicando Portugal como “o melhor país de destino para profissionais altamente qualificados que queiram desenvolver as suas competências nesta área. Dentro da União Europeia o processo já é mais ágil, mas nos mercado terceiros é muito pesado”, aponta. Se o Governo e as políticas públicas apontarem nestas direções, então o sector conseguirá “aguentar a onda”. 

Fatores nacionais de sucesso
Célia Reis considera que a atração de Portugal como plataforma de serviços para mercados globais, dentro da Europa, acontece porque o país “oferece um mix de fatores muito valorizados pelos investidores do mercado” — entre a competência dos seus engenheiros, a qualidade das infraestruturas, a segurança, a estabilidade política ou o respeito pela propriedade intelectual.

A proximidade é outro ativo. Os ciclos de desenvolvimento tecnológico estão mais acelerados e as equipas têm de estar preparadas para produzir demonstradores e novas funcionalidades em 15 dias, um mês. “E isto só é possível quando, por um lado, há um alinhamento cultural e, por outro, uma time zone que se coadune com a possibilidade de, perante um problema, termos de ir para onde o cliente está, seja Alemanha ou no Reino Unido”, conta a responsável que explica, desta forma, porque é que mercados como a Índia deixaram de ser tão apetecíveis, e passando as multinacionais a optar pelo nearshore ao invés do offshore — seja para instalarem complexos centros de engenharia de investigação até aos mais simples centros.



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