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Mal-entendidos e armadilhas culturais



01.01.2000



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2. Mal-entendidos e armadilhas culturais

"A abordagem interdisciplinar dos processos económicos internacionais é praticamente inexistente. Mais grave ainda, as aplicações correntes da análise económica convencional não toleram os comportamentos "irracionais". Mas, se nos colocamos numa perspectiva plurinacional e intercultural, não podemos perguntar o que é racional e o que é irracional. Os dois são termos muito relativos e muito ligados à cultura; o irracional de um pode revelar-se como um comportamento metódico e previsível para outro.
Apesar da afirmação coerente de que os sentimentos e a procura de interesses económicos não se misturam, os sistemas económicos são na realidade sistemas éticos. Seja mediante leis e normas ou costumes, certas actividades económicas são sancionadas e outras não. E o que é sancionado difere de uma cultura para outra."


Glen Fischer in Midsets 1988, p.144

O processo de globalização tende, aparentemente, a atenuar as diferenças culturais, mas não as anula e as que persistem são fonte de mal-entendidos. Um mal-entendido cultural é um conflito de comunicação (aberto ou latente), provocado pelo facto de os interlocutores serem oriundos de culturas diferentes e, consequentemente, terem diferentes valores, hábitos e códigos de conduta, enfim, diferentes esquemas ou softwares mentais colectivos.

É sempre recomendável, antes de abordar um interlocutor estrangeiro ou ser enviado para outro país como expatriado, informar-se sobre a história do seu país, sobre a religião praticada pela maioria da população e sobre os seus grandes valores, regras de educação, interdições e tabus. Na prática, os quadros internacionais nem sempre têm disponibilidade e o tempo necessários. No mínimo, deverão informar-se sobre as regras de decoro ou de cortesia a respeitar, mas os livros sobre a cortesia, a história e a religião deste ou daquele país são de diferentes autores e apenas abordam as diferenças culturais a um nível muito superficial.

Os Americanos ( e serão só os Americanos?), acreditam que um bom líder ou gestor em Nova York ou em Los Angeles, é-o em Hong-Kong, Paris, Tóquio, S. Paulo ou Lisboa. Contudo, Stewart Black e Mark Mendenhall, num estudo do início desta década (Op. Cit), demonstram que 70% dos Quadros Americanos expatriados e 90% das famílias são enviados para o estrangeiro sem qualquer tipo de formação sobre diferenças culturais.
Não obstante ser fácil reconhecer que as competências interculturais são importantes e facilitadoras das missões fora do país, tornando-as mais produtivas e menos dolorosas, a maioria dos gestores de recursos humanos nada fazem em termos de formação intercultural para os empregados em geral nem mesmo para aqueles que são recrutados e seleccionados para missões internacionais, especificamente.

Como resultado desta situação, e ainda de acordo com estes investigadores, entre 16 a 40% de todos os expatriados enviados para missões internacionais regressam antes de tempo devido a fracos desempenhos, pouca produtividade ou incapacidade de adaptação à nova cultura hospedeira. Os custos directos desta situação estimam-se em mais de 2 biliões de dólares por ano.

Fonte RHM (continua)






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