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Cronobiologia: aspectos metodológicos



01.01.2000



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Cronobiologia: aspectos metodológicos

As perturbações da saúde relacionadas com o TT passam por uma perturbação da ritmicidade circadiana. Com efeito, muitas funções do nosso organismo flutuam no tempo de forma cíclica: ritmos biológicos (não confundir com biorritmos). Como exemplos, citamos a temperatura corporal (com um mínimo cerca das 5 da madrugada e um máximo perto das 17-19horas), o cortisol plasmático (com o seu pico às 7-8 horas da manhã), a força muscular (com o seu pico cerca das 15 horas), a atenção, a memória a curto prazo (mais eficiente perto do meio dia), a memória semântica (mais eficiente para a tarde), o sono-vigília, o humor, etc.. A ciência que estuda os ritmos biológicos é a cronobiologia (do grego, chronos = tempo).

Quando se estuda um ritmo biológico determinam-se diversos parâmetros. Teremos de determinar o valor mínimo (nadir) e o valor máximo (zénite), bem como os momentos (hora do dia, dia da semana, mês do ano, etc.) em que ocorrem o nadir (batifase) e o zénite (acrofase, j). Por exemplo, se o valor mais elevado da temperatura corporal de um indivíduo é 36.9º Cej=19h. Muitas vezes, em vez de horas, dias ou meses, usam-se graus de ângulo.

Há pessoas que possuem acrofases dos seus ritmos avançados em relação às médias populacionais, pelo que acordam mais cedo e são mais eficientes de manhã (madrugadores, matutinos ou cotovias). Outros possuem as acrofases atrasadas, pelo que tendem a acordar mais tarde e são mais eficientes para o fim do dia ou noite dentro (vespertinos, noctívagos ou mochos). Esta dimensão "cotovia-mocho" traduz o "tipo diurno", um factor preditor da adaptação ao TT.

Outros parâmetros importantes são a duração de um ciclo completo (período ou T) e a frequência (f) em número de ciclos por unidade de tempo. A unidade de tempo em cronobiologia é o "dia" de 24 horas. Assim, se um ritmo tiver um período de 1 segundo (T=1s), como por exemplo o cardíaco, terá uma frequência de 86400 ciclos por dia. Estes 2 parâmetros permitem definir o espectro cronobiológico: ritmos ultradianos (T<20h, por conseguinte frequências elevadas), ritmos infradianos (T>28horas, por conseguinte frequências baixas) e ritmos circadianos (20h<T<28h), isto é, ritmos com um período de cerca de um dia (do latim, circa diem= cerca de um dia).

Outro parâmetro importante é o nível médio (M), isto é, o valor à volta do qual a função biológica oscila. Quando se usam métodos de análise trigonométrica e estatística dos ritmos biológicos (ex.: método COSINOR ou análises do tipo Fourier), o nível médio designa-se mesor, do inglês "midline estimated statistic of rhythm". A diferença entre o zénite (valor máximo) e o nível médio (M) denomina-se amplitude (A). A flexibilidade, entendida como o grau da capacidade para mudar horários de sono e vigília sem afectar significativamente o desempenho, parece estar associada à amplitude da temperatura corporal: há estudos que sugerem que os ritmos com amplitudes grandes resistem mais a mudanças nas acrofases (rigidez).

Outro aspecto importante a ter em conta diz respeito às relações de fase entre os diversos ritmos corporais. A fase traduz a relação entre os valores da função biológica em estudo (ordenada) e os valores do tempo (abcissa). Assim, poderemos dizer que entre as 5 e as 12 horas a temperatura corporal está em fase ascendente, dado que a curva definida no gráfico apresenta um declive nesse sentido (derivada positiva). A acrofase é a fase correspondente ao zénite. Usando as acrofases como marcadores rítmicos, poderemos medir as diferenças horárias entre diversos ritmos. Por exemplo, entre a temperatura corporal (TC) e o cortisol plasmático (CP) há uma diferença da ordem das 7 horas (jTC=17h; jCP=8h).

Os diversos ritmos biológicos num determinado organismo deverão manter entre si relações de fase estáveis, o que se designa harmonia bio-temporal ou sincronização interna. Se por qualquer motivo (exemplo, trabalhar à noite) os ritmos perderem as relações de fase que deveriam manter, surge uma dessincronização interna ou dessincronose que está subjacente à maior parte dos problemas de saúde no TT.

Fonte RHM (continua)






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